E o deserto florescerá!

E o deserto florescerá!

domingo, 19 de agosto de 2018

O SONHO DE DEUS


 Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci; antes que nascesses, eu te consagrei e te constitui profeta para as nações (Jr 1,5).

     Este texto do livro do profeta Jeremias é muito consolador e nos revela o sentido da vida. Vivemos algo que nos ultrapassa. Somos chamados a viver o sonho de Deus para nós. O Senhor sonhou comigo antes de me formar no ventre materno. No sonho de Deus está presente minha vida, vocação e missão. Se o realizo sou feliz. E Deus vai revelando o seu sonho para nós aos poucos, conforme o podemos compreender. Podemos mesmo dizer: conforme nossa abertura e interesse em conhecê-lo e compreendê-lo.
   Nossa primeira vocação é o chamado à vida, que se desdobra ao longo dos anos enquanto vou assumindo minha vida e doando-a para gerar vida para outros. O segundo chamado é o chamado ao amor. Ele se realiza enquanto vou me deixando amar por Deus e, experimentando que sou amada, abro o meu coração para amar. Para amar preciso morrer para mim mesma. Por causa do pecado não achamos fácil amar. Então, para amar é preciso que o Espírito Santo – o amor do Pai e do Filho – me ensine a amar. O terceiro chamado de Deus para nós é o chamado à santidade. É o chamado a seguir Jesus, me identificar com Ele, amando até o fim, doando a vida por amor.

      Assim, ao longo da vida, vamos descobrindo e compreendendo outros chamados que não são chamados diferentes, mas estão todos contidos no sonho de Deus para nós. O chamado a ser pai ou mãe, a ser consagrado a Deus na vida sacerdotal e religiosa, a se doar numa profissão, a ensinar as verdades da fé, a anunciar Jesus. Todos estes chamados se entrelaçam e se realizam dentro do sonho de Deus para cada um de nós. De tal maneira que podemos identificá-los desde os tempos de criança. Em cada etapa o Espírito Santo vai-nos enchendo de alegria pela realização do sonho de Deus para nós. E se nos deixamos conduzir por Ele podemos viver a experiência de uma vida em plenitude.
 
      Para vivermos em plenitude o Senhor faz conosco como o oleiro: Como a argila na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel (Jr 18, 6). Os olhos do oleiro conseguem ver imperfeições que nós não vemos. Quando isto acontece o vaso é desfeito e refeito para que os defeitos de fabricação e toda impureza da argila seja retirada. Esse processo muitas vezes acontece em momentos de crise ou fracassos, ou quando concluímos uma etapa, ou ainda quando uma porta se fecha e outra se abre. Precisamos ter paciência e coragem para superar nossas imperfeições. Deixar o Senhor nos purificar e entrar pela porta, muitas vezes estreita, que Ele abre para nós.

    Amados por Deus podemos olhar para nossa vida como um dom muito belo e bom. Tendo humildade para reconhecer que não estamos prontos, mas o Senhor vai conduzindo nossa vida tendo em vista a realização do sonho Dele para cada um de nós.

     Eis-me aqui, Senhor. Desejo fazer vossa vontade e realizar em minha vida seu sonho de amor. Quero beber o cálice da vida até o fim. Para isto renuncio aos meus projetos enganosos. Renuncio ao orgulho, egoísmo, a frustração e ao desejo de estar pronta. Renuncio tristeza, ao medo e a tudo mais que me afasta de Ti e das pessoas. Ó Espírito Santo, faz de mim um vaso novo, para a glória de Deus. Assim seja.

domingo, 8 de julho de 2018

A FONTE DAS ÁGUAS


Ele me fez voltar até a entrada do Templo, e eu vi água vertendo por debaixo da soleira do Templo em direção leste, pois a fachada do Templo estava voltada para o leste. A água corria do lado direito do Templo, ao sul do altar (Ez 47,1).

      A água que o profeta vê saindo da soleira do Templo – Templo que é o corpo do Senhor Jesus – é a fonte da vida. Fonte da misericórdia de Deus para nós, que temos sede e precisamos de perdão. Fonte que salva e cura. Água que dá vida e sacia nossas necessidades mais profundas.
“Vinde às nascentes das águas!” (Is,55,1). Muitas vezes o Senhor faz esse convite na Sagrada Escritura. E esse é o convite que ressoa dentro de nós. Convite feito pela voz de Deus, convite para nos aproximarmos Dele e ter a vida regenerada. A fonte corre generosamente. As portas estão abertas. O convite está feito: “Vinde! Vinde beber!” É grande a multidão dos sedentos. Muitos vagam sem perceber que tem sede, sabem apenas que vivem insatisfeitos, pois sentem que falta algo em sua vida. Muitos nem sabem da Fonte. Outros ouviram falar dela, mas não acreditam. Outros tantos preferem ficar como estão, vivendo de migalhas, passando sede, mas não querem dar um passo para procurar a Fonte. Há ainda quem procura saciar-se em outras fontes – fontes que não são verdadeiras, são cisternas rachadas que não retém água (cf. Jr 2,13).

     Em nossa oração podemos levar todos à Fonte – os doentes, os sofredores, os que precisam de paz, os solitários, os que perderam o sentido da vida, aqueles que ninguém ama, os que vivem no pecado e vão destruindo a vida por onde passam... E cremos que em nossa oração o Senhor olha para cada um deles com ternura e misericórdia. E em sua misericórdia Ele achará um meio de se manifestar a cada um. O Cristo Redentor irá ao encontro deles, pois Ele veio para nos salvar, nos reconciliar com o Pai, perdoando os nossos pecados e nos dando uma vida nova.
Jesus falou de pé e em voz alta: “Se alguém tiver sede venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva” (Jo 7,37-38).

    Então, não cessemos de interceder pelos nossos queridos, pelos que nos pediram oração, e pelo mundo que Deus ama e quer salvar. Mesmo que demore, mesmo que se torne difícil ter esperança, pela nossa oração continuemos levando os necessitados à Fonte da graça. A ação é de Deus, a obra é do Espírito Santo, mas podemos ser os servos que enchem as talhas de água para que o Senhor a transforme em vinho novo (cf. Jo 2,1-11).
Senhor Jesus, confiamos em vossa misericórdia. Trazemos aos pés da sua cruz a multidão de sedentos que caminham na vida procurando um alívio. Pedimos, Senhor, por aqueles que Te buscam mesmo sem saber. Pedimos pelos que buscam em lugares errados. Vá ao encontro deles para que encontrem a Ti, o Senhor que dá a vida. Pedimos pelos que andam tão errantes que não sabem ou não querem buscar mais nada, pois nada mais esperam. Pedimos pelos que estão envoltos na nuvem escura da depressão, do desespero e dos vícios. Pedimos pelos que sofrem e pelos que desejam a morte. Pedimos pela humanidade sofredora no mundo em convulsão. Toque, Jesus, em cada um. Busque a ovelha perdida, ó Bom Pastor. Leve todos à nascente das águas que é o seu Coração. Amém.

Que minha oração seja o incenso diante de ti, minhas mãos erguidas, a oferenda vespertina! (Sl 141(140),2).

domingo, 13 de maio de 2018

ASCENSÃO DO SENHOR


Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura 
(Mc 16,15).
Deus subiu por entre aclamações, o Senhor subiu ao som da trombeta. Catai louvores a Deus, cantai! Cantai louvores ao nosso rei, cantai! 
(Sl 47(46),6-7).

      Na introdução aos Atos dos Apóstolos, Lucas nos conta como Jesus ressuscitado ficou com os seus discípulos, dando as ultimas recomendações e fortalecendo a fé deles (At 1,1-11). A principal instrução que Jesus dá a eles é: Esperar o cumprimento da promessa do Pai. O cumprimento da promessa do Pai é o coroamento do projeto de salvação de Deus. Na plenitude dos tempos Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher para nos salvar por sua morte e ressurreição (cf. Gl 4,4). Mas não terminou aí o plano de Deus. Deus queria morar em nós na intimidade de amor, e assim, poder nos chamar de filhos, nos ungir e nos conduzir. Isso se tornaria real pelo derramamento do Espírito Santo. E as ultimas palavras de Jesus ao seus foi: 
Recebereis uma força, o Espírito Santo que virá sobre vós; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judéia e Samaria, até os confins da terra (At 1,8).

      O dom do Espírito Santo que recebemos no batismo como marca indelével, e que é renovado a cada dia se o pedimos, e especialmente em cada missão ou nova fase da vida, numa nova efusão do Espírito Santo.

      É na força do Espírito Santo que a Igreja vive. É o Espírito Santo que nos dá força para testemunhar que Jesus vive e é o Senhor, num mundo em convulsão, em que nada mais é confiável e as vãs filosofias brotam todo dia; onde as ideologias arrastam a muitos e infelizmente fazem muitos perderem a fé.

      A Palavra de Deus nos convida a renovarmos a fé, pois a nossa certeza é: Jesus voltará! (At 1,11). Não sabemos o dia nem a hora, mas certa como a aurora é a sua vinda. Enquanto o esperamos, carregamos o suave fardo do envio de Jesus: Ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura (Mc 16,15). Envio que recebemos no batismo, e se renova no final de cada missa, e sempre que oramos com a Palavra de Deus. A poderosa voz do Senhor ressoa  nos corações dos que crêem: Ide... ide testemunhar a fé em tempos difíceis. Para isto tomamos sobre nós a oração de Paulo:

       Rogo ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, que vos dê um espírito de sabedoria e de revelação para o conhecerdes, e ilumine os olhos de vosso coração. Assim compreendereis qual a esperança a que fostes chamados, quão rica e gloriosa é a herança reservada aos santos, e qual a suprema grandeza de seu poder para conosco, que abraçamos a fé, segundo a eficácia da força do seu poder (Ef 1,17-19).

Amém. Que assim seja Senhor. Renova a graça do batismo e faça-nos nascer de novo na força do Espírito Santo. Vinde, Espírito consolador! Amém.

domingo, 22 de abril de 2018

GRAÇA E REBELDIA


    Podemos perceber dentro de nós duas forças contrárias. Uma é o desejo de fazer a vontade de Deus, de seguir Jesus com mais entusiasmo, de amar mais o próximo. Esta força foi gravada por Deus, no mais intimo do nosso ser, ao nos criar. Mas podemos perceber também a rebeldia, o desejo de controle, a arrogância, soberba, orgulho, egoísmo, e medo de fazer a vontade de Deus.

        Pela graça do batismo somos atraídos para Deus, fonte de todo bem. O desejo de fazer a vontade de Deus gera vida e consolação do Espírito Santo, mesmo quando passamos por tribulações na vida. A rebeldia, ao contrario, gera a morte, a tristeza, o medo, a frustração e reclamação. O desejo de me entregar ao Senhor vem do Espírito Santo; a rebeldia vem do Maligno, é fruto do pecado, do orgulho da carne. A rebeldia vem do amor próprio desordenado, fruto do orgulho, do desejo de dominar a vida, de ser como Deus.

     A mulher notou que era tentador comer da árvore, pois era atraente aos olhos e desejável para alcançar inteligência. Colheu o fruto, comeu e deu também ao marido, que estava junto, e ele comeu (Gn 3,6).

       Este versículo da Bíblia revela a tragédia da humanidade: a rebeldia e desobediência ao Criador. O Maligno apresentou a Adão e Eva a tentação do orgulho, e eles caíram perdendo a graça da amizade com Deus. O orgulho, o amor próprio desordenado, entrou pelos olhos (o fruto era atraente), dominou a inteligência (razão, pensamentos e sentimentos), e se tornou ação (colheu o fruto e comeu). Seus olhos se abriram, e viram, não a grandeza que esperavam, mas a pequenez do ser humano (estavam nus). Pois nossa grandeza vem de Deus, e quando nos afastamos dele só nos resta a miséria, o fracasso como pessoa. Por isso S. João nos exorta em sua primeira carta:

       Não ameis o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo – os maus desejos da carne, a cobiça dos olhos e o orgulho da riqueza – não vem do Pai, mas do mundo. Ora, o mundo passa junto com sua cobiça, mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre. 
(1Jo 2,15-17).

       O remédio para a ferida do pecado é a graça. O tratamento é vigiar sobre o amor próprio desordenado. Vigiamos reconhecendo que a raiz do pecado está em nós, e se tentarmos arrancá-la por nossas próprias forças ela brotará em outro lugar ainda mais forte. Mas Deus não nos criou para o pecado e a infelicidade. Deus nos criou para a vida, o amor e a santidade. O Espírito Santo é quem nos faz sair do reino do pecado e nos dá a vida da graça. É Ele quem nos torna dócil à vontade de Deus.

Então, o que posso fazer? Reconhecer que o pecado mora em mim (cf. Rm 7,14-25), e nas áreas onde sei que ele me domina, mudar as ações de orgulho para a mansidão. Combatemos o amor próprio desordenado pela mansidão e humildade. Mansidão e humildade é o jeito de ser de Jesus (Mt 11,29). 

   Nossa vida é transformada quando abrimos o coração para o Espírito Santo, dom de Deus. É Ele quem nos configura com Cristo e nos dá a alegria de sermos filhos do Pai. Ouçamos a voz do Espírito que nos exorta a obediência da fé. 
O amor próprio desordenado nos leva a incredulidade, pois quando me deixo dominar pelo orgulho eu creio em mim mesma e não em Deus. “Não me submeterei!” Este é o pecado de Lúcifer, que pela desobediência, de anjo de luz se tornou anjo das trevas, o Maligno.

    Para quebrar o orgulho não precisamos procurar muito, basta nos submetermos as situações humilhantes que a vida nos traz. Em tudo preciso discernimento, que é dom do Espírito Santo. Ele afina nossos olhos e ouvidos para perceber onde está a vontade de Deus.

          Senhor Jesus, lava-me com o teu sangue. Aos pés de vossa cruz me refugio. Renova a graça do meu batismo. Dá-me o Espírito Santo. Eu renuncio a satanás e as suas obras. Renuncio ao orgulho e a desobediência a Deus. Maria, mãe da divina graça, ajuda-me a obedecer ao Senhor. Desperta meus ouvidos para escutar sua exortação: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Amém.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

ORAÇÃO COMO ENTREGA


Procurai o Senhor e seu poder, buscai sempre a sua face!
(Sl 105(104),4).

         O encontro com Deus na oração consiste sobretudo em buscar a sua face. E se o buscamos é porque Ele nos buscou primeiro. Na vida espiritual o primeiro passo é sempre do Senhor que nos busca e vem ao nosso encontro (cf. Gn 3,9). A atitude que o Senhor espera de nós é prestar atenção ao seu chamado e ir ao seu encontro.

           Orar é buscar a face do Amado e experimentar o desejo Dele de que eu me entregue sem reservas. De tal forma que mesmo as minhas necessidades, as necessidades dos meus queridos, da Igreja e do mundo, na verdade não são pedidos, mas entrega. O apelo do Espírito Santo é que o discípulo de Jesus se  entregue docilmente  nas mão amorosas do Pai, por Cristo, com Cristo, em Cristo. 


      Na vida de oração certamente muito já pedi, mas geralmente a resposta me decepcionou ou experimentei apenas o silêncio de Deus. Na verdade o Senhor não me abandona no silêncio. Quando Ele se cala está me educando para a entrega. Ele quer me fazer experimentar que o maior presente não é não é responder positivamente aos meus pedidos. O maior presente é Ele mesmo. Experimentar a vida divina, ser transformada pelo Espírito Santo, é esse presente que Ele quer me dar. O resto virá a partir da minha entrega e da união com o Amor que se entrega sem reservas (cf. Mt 6,33). De tal forma que posso experimentar em minha pobre humanidade a vida divina. Esta é a maior consolação que posso experimentar na oração e na vida. O relacionamento afetivo com Deus é a fonte da felicidade. O Pai de Jesus Cristo é o consolador:

Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai misericordioso e Deus de toda consolação. Ele nos conforta em todas as aflições, para podermos consolar todos os aflitos com o consolo que nós mesmos recebemos de Deus (2Cor 1,3-4).

       Senhor, que eu nunca pare de procurar a vossa face. Às vezes a correria e preocupações da vida me fazem esquecer a vossa consolação e a entrega que o Senhor me convida a fazer. Quando isto acontecer que o Espírito Santo venha despertar o meu ser para encontrar o Senhor na agitação da vida, em meio aos medos e insegurança, e me coloque outra vez na vossa presença. De tal forma que onde eu estiver seja o Tabor onde o Senhor se transfigura e me transfigura com Ele. Vinde Espírito Santo consolador fazer-me viver diante da face de Deus. Amém.

sábado, 24 de março de 2018

TEMPESTADE E CALMARIA


      Pelas três da madrugada, vendo que estavam cansados de remar, pois o vento lhes era contrário, foi até eles andando sobre o mar e queria passar à frente deles. Ao vê-lo caminhar sobre as águas, pensaram que fosse um fantasma e gritaram, pois todos o viram e se assustaram. Mas Jesus logo lhes falou: “Coragem! Sou eu! Não tenhais medo!” Então, entrou no barco onde estavam, e o vento se acalmou (Mc 6,48-51).

       Os discípulos lutavam para conduzir o barco em meio ao mar revolto, remando contra o vento. Trabalhavam com afinco com medo do naufrágio. Suas mentes estavam dominadas pelo medo. Em meio a esta situação Jesus vai ao encontro deles, mas tal era o estado de pavor que os dominavam que não reconheceram Jesus, que caminhava, comia e bebia com eles. Esse estado mental os fez pensar que Jesus fosse um fantasma, um espírito das profundezas do mar, que tinha vindo para arrastá-los para a morte. A mente dominada pelo medo sempre nos prega peças, e nos leva a acreditar em suas fantasias.
         Muitas vezes nossa vida fica revolta como esse mar. A escuridão da noite, os fortes ventos da tempestade dos sofrimentos, as ondas gigantes da angustia e do medo nos atacam de todos os lados. Ficamos sem forças, e não conseguimos ver uma saída ou reconhecer um socorro. Parece que até Deus se cala, se afasta e nos deixa só, lutando nossa luta, uma luta que muitas vezes nos parece maior que nossas forças.

        Às vezes a tempestade é uma doença, a morte de alguém querido, uma separação, o desemprego, um vício que não temos forças para deixar... Muitas coisas ameaçam nossa estabilidade e até mesmo nossa vida. Em todas as situações o que nos mantém de pé é a fé de que o Senhor vem ao nosso encontro na hora mais escura da noite para nos salvar. Com Ele no barco podemos vencer as tempestades.

       Mas fico pensando em outra situação que pode nos abater: a calmaria. Não falo da calmaria dos dias bons em que sentimos alegria e gratidão por podermos fazer as coisas simples da vida – a convivência familiar, o comer saboreando os alimentos, degustar uma taça de vinho, o trabalho, o poder caminhar, ouvir um pássaro cantando em meio ao barulho da cidade... muitas são as coisas que alegram nossa vida, e muitas vezes não prestamos atenção nelas.

       Penso na calmaria que prende as velas do barco da vida, quando não sopra nem uma brisa, em que a superfície do mar parece de vidro e nada acontece. A calmaria que mina nossas forças, que nos torna irritados e sem paciência. Quando nada podemos fazer a não ser esperar que o vento sopre de novo e enfune as velas da vida. Em tal situação de desolação se torna difícil manter os compromissos que fizemos. Nossa oração se torna árida e é um desafio manter acesa a chama da fé.

       Não sei o que é mais difícil: a tempestade ou a calmaria. Na tempestade sempre temos alguma coisa para fazer; é preciso ir à luta... Na calmaria o desafio é a inércia, o não ter nada para fazer, é um teste para nossa paciência. Mas seja qual for a situação que estamos vivendo o socorro sempre vem do Senhor. É Ele que adestra nossas mãos para a luta na tempestade e nos dá força para esperar que o vento do Espírito sopre outra vez as velas da nossa vida. Ambas as situações deixam marcas em nós. Não somos mais os mesmos depois de uma tempestade ou de uma calmaria.

      Senhor Jesus, vinde ao barco da nossa vida, pois precisamos do seu socorro. Vinde nos dar força na tempestade ou na calmaria. Vinde lutar conosco e por nós. Temos medo Senhor! Aumenta nossa fé. Que a Vossa presença seja o nosso consolo. Cure as feridas da tempestade e da calmaria. Vinde Espírito Santo consolador, nos trazer o balsamo da cura divina. Amém.

terça-feira, 6 de março de 2018

A LIBERTAÇÃO DO MEDO - 6


 Sexto medo: Medo da morte.

        O medo da morte é forte em nós porque Deus não nos criou para a morte. A morte entrou no mundo pelo pecado. A única certeza que podemos ter nesta vida é que morreremos, mas mesmo assim sempre nos surpreendemos com a morte, nunca a vemos como um acontecimento natural.

        Talvez mais forte que o medo da morte seja o medo de uma morte lenta e penosa. Tememos o sofrimento que acontece antes da morte. Tememos ver o nosso corpo e a nossa mente se deteriorando. Tememos ver que o nosso  conhecimento, atividades, todo potencial do nosso ser, tudo o que sonhamos e programamos, se vai como poeira ao vento. Tememos deixar o nosso corpo, ele é a nossa casa, por ele somos conhecidos, através dele agimos no mundo. Tememos o sofrimento de deixar as pessoas queridas, e de igual modo tememos a morte de pessoas queridas. Mas a Palavra de Deus se levanta sobre o nosso medo e o Senhor nos diz:
“Sede fortes e corajosos! Não vos intimideis nem tenhais medo deles! Pois o Senhor teu Deus vai contigo não te deixará nem te abandonará!” (Dt 31,6).

   
Mas para o Senhor nos libertar do medo da morte precisamos cuidar da vida. A vida é o dom mais precioso que recebemos de Deus e Ele a mantém em nós com seu sopro vital – “Quem ama a vida, ama a Deus” (Leon Tolstoi).  A vida é frágil e preciosa, precisamos cuidar dela com carinho. Quem mais teme a morte é quem não vive bem. Muitas vezes vivemos a vida como um ideal que sonhamos e não como ela é realmente. Quando isto acontece não estamos vivendo a vida, mas um sonho, melhor dizendo uma quimera, uma ilusão. Deus quer que vivamos plenamente a vida que Ele nos deu. Jesus é a Vida e veio nos dar vida nova: 
“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia” (Jo 10,10).

        Jesus veio nos dar a salvação, nos resgatar da morte com sua ressurreição. Com Ele não tememos mais a morte. Como será a nossa morte? Não sabemos. Está nas mãos de Deus. Mas se entregarmos ao Senhor o medo da morte Ele nos libertará, nos consolará. Jesus nos dá a confiança de seja como for a nossa morte Ele está conosco, e junto com sua mãe Maria, nos ajudará a passar desta vida para a vida eterna na qual não há mais choro ou dor.
Ore com este texto do livro do Apocalipse e deixe a Palavra de Deus te libertar de todos os medos:

     Ouvi uma voz forte que saia do trono e dizia: “Esta é a tenda de Deus entre os homens. Ele vai morar com eles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus-com-eles será seu Deus. Enxugará as lagrimas de seus olhos e a morte já não existirá. Não haverá mais luto, nem pranto, nem dor, porque tudo isso já passou”. E aquele que estava sentado no trono disse: “Agora faço novas todas as coisas” (Ap 21,3-5).

     Durante seis dias tenho orado por você que junto comigo refletiu sobre alguns medos que nos dominam. Que o Senhor te dê hoje e sempre uma vida fecunda. Vida que vem do amor Dele e se irradia de nós para os outros.

      Quem nos separará do amor de Cristo? O sofrimento, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Mas em tudo isso vencemos por aquele que nos amou (Rm 8,35.37).

segunda-feira, 5 de março de 2018

A LIBERTAÇÃO DO MEDO - 5


 Quinto medo: medo de ficar só.

       Há pessoas que ficam paralisadas por esse medo – para algumas é muito doloroso pensar ou falar sobre ele. Realmente a solidão não desejada, aquela para qual a vida nos leva sem procurarmos, se assemelha a uma tempestade de areia no deserto. Não podemos fugir dela e ela nos apavora. A solidão não desejada se assemelha também a um deserto de gelo, uma morte antecipada que rouba nossas forças e nos paralisa. Fazemos a experiência de S. Paulo, preso em Roma: 
Em minha primeira defesa não houve quem me ajudasse. Todos me abandonaram (2Tm 4,16).

Vou me casar um dia? E se meu marido ou esposa morrer ou me abandonar e me deixar só? Quem ficará comigo até o fim?

São perguntas para as quais não temos resposta... O medo de ficar só sufoca a alegria de viver e domina nosso pensamento num círculo vicioso, pois quanto mais tenho medo mais me aproximo da vida solitária que muitas vezes é uma contingência da velhice. Por isto tememos o futuro e a velhice.

       A solidão pode nos levar a depressão, minar nossa auto-estima e nos fazer pensar que não temos valor, que não somos bons o suficiente para que alguém fique conosco.  Podemos pensar em muitas formas de fugir dela... Por exemplo, através todas as formas de drogas; usar de todos os meios ao nosso alcance para prender os filhos junto de nós; viver servindo ao outro sem equilíbrio e sem vida própria; buscar um relacionamento amoroso com qualquer pessoa para fugir através do sexo - muitas vezes colocando a vida em risco por atitudes impulsivas...
       Para sermos libertos do medo da solidão precisamos entrar nela e ficar quietos. Deixar o Senhor vir ao nosso encontro pelo deserto da solidão e encher o vazio do nosso coração. Para entrar nesse deserto precisamos ter a clareza que uma coisa e ser só e outra coisa muito diferente é sentir-se só. Estou falando aqui do medo de ser realmente só. Deixar que Jesus, o Príncipe da paz, venha nos dar a paz na situação de solidão que vivemos. Deixar que o Senhor te abrace e ficar quieto nos braços Dele. Você não está só. A promessa de Deus é: 
Se meu pai e minha mãe me abandonarem, o Senhor me acolherá (Sl 27(26),10).

       Pode ser que o medo de ficar só tenha entrado em nosso coração por uma experiência de abandono na infância. Por exemplo: a morte ou abandono da mãe ou do pai, o afastamento da família por uma doença prolongada ou outras causas... Muitas vezes quem foi criado numa família grande pode querer eternizar a experiência de calor humano vivido na casa paterna.

       Muitos podem ser os motivos para o medo de ficar só... Mas, uma coisa é certa, só Deus pode preencher o nosso coração da profunda necessidade de amor, aceitação, intimidade, compreensão, pois só Ele ficará conosco por toda a vida e mais a eternidade. Jamais nos abandonará. Nós podemos abandoná-Lo, mas Ele permanece fiel. Junto com o amor de Deus o serviço amoroso ao outro também enche o coração de alegria e gratidão nos curando do medo da solidão. Quem se dispõe a servir não ficará só.

Senhor Jesus, venha em nosso socorro e nos liberte do medo da solidão. O Senhor também passou pela solidão, traição e abandono, e precisou do consolo de amigos. Senhor, quebra em mim as cadeias do medo de ficar só. Que o teu amor seja o meu consolo. Que a tua presença e a experiência de ser amada por Ti seja o meu consolo e me cure do desamparo da solidão. Jesus eu confio em Vós. Amem.

domingo, 4 de março de 2018

A LIBERTAÇÃO DO MEDO - 4


 Quarto medo: O medo de perder tudo.

      Mesmo sabendo que é insensato colocamos nossa segurança em coisas e pessoas. Quem nunca teve medo de perder? Esse medo se manifesta de diversas formas. Medo de perder a família, as pessoas queridas; medo de perder a saúde; medo de perder os bens; medo de perder o trabalho; medo da pobreza; medo da velhice...  Esse medo nos impede de viver a vida com alegria, pois ficamos sempre preocupados com o dia de amanhã. Mas Jesus nos diz:

Não vos preocupeis com o dia de amanhã. O dia de amanhã terá suas próprias dificuldades. A cada dia basta o seu peso (Mt 6,34).
       Uma coisa é ser prudente, viver uma vida mais simples, cuidar da saúde, cuidar das pessoas que nos são caras, e isso é bom e necessário. Outra coisa é viver aflito e tenso sempre esperando que aconteça alguma coisa ruim e esquecer de viver. Vivemos nos perguntando: “E se acontecer isso ou aquilo?” E vivemos nos preparando para esse acontecimento temido que talvez nunca aconteça. Esse medo vem da falta de confiança em Deus. Mas Ele nos fala coisas diferentes. Deixe que a Palavra de Deus expulse o medo do seu coração.

O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra (Sl 121(120),2).

Fui jovem e já estou velho, e nunca vi um justo abandonado nem seus filhos mendigando pão (Sl 37(36),25).

Entrega teu caminho ao Senhor e confia nele. Ele atuará (Sl 37(36),5).

      A promessa de Deus é para aqueles que confiam nele e endireitam os seus passos no caminho do Senhor. Sua segurança é o Senhor; Ele é que proverá a fonte de sustento em nossa vida.

       A promessa de Jesus é que estará sempre conosco: Eis que estou convosco, todos os dias, até o fim do mundo (Mt 28,20). E se Ele está conosco podemos descansar mesmo em meio a instabilidade deste mundo. Tudo na vida passa, mas o amor de Deus permanece para sempre. Deixemo-nos amar por Deus e amemos as pessoas com o amor de Deus que flui em nós. Vivamos com alegria e esperança, pois o Senhor cuida de nós.

   Amado Jesus, como o Senhor convidou Pedro à sair do barco e caminhar sobre as águas turbulentas, convidas hoje a mim para fazer o mesmo. Com os olhos fixos no Senhor posso caminhar sobre as águas turbulentas da vida. Às vezes duvido e tenho medo, mas, se grito por Ti, o Senhor me estende a mão. Por isto clamo a vós, meu Deus! Liberta-me do medo de perder o que me é mais caro. Que a tua presença amorosa seja meu sustento. O Senhor é a fonte da vida. No Senhor está a minha segurança. Por isto confio e nada temo. Obrigada Jesus. Amém.

sábado, 3 de março de 2018

A LIBERTAÇÃO DO MEDO - 3


 Terceiro medo: Medo do julgamento de Deus.

         A Bíblia nos diz que: Todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus (Rm 3,23). É verdade. Todos somos pecadores e por isto temos dificuldade em nos render ao amor de Deus. Desconfiamos que Ele não vai nos   amar e perdoar. Medimos Deus pela nossa medida e desconfiamos da misericórdia – se somos incapazes de amar e perdoar, Deus também deve ser.  Às vezes a culpa pelos erros do passado nos atormenta ao longo da vida, não importa quantas vezes já o tenhamos confessado. Carregar a culpa e o medo do julgamento de Deus é como carregar um fardo muito pesado que esgota nossas forças, e nos impede de viver a intimidade com o Senhor e saborear sua presença amorosa.
CENA DO FILME "A MISSÃO"
      Isto me recorda o personagem capitão Rodrigo Mendonza do filme A MISSÃO. Um homem pecador e violento, mercenário, traficante de escravos, que matou o irmão por ciúme, ao se converter colocou suas armas num saco e o levava nas costas. Como andavam por caminhos difíceis no meio da mata o saco batia e se agarrava em tudo tornando a jornada muito mais penosa. Um companheiro de viagem, vendo aquele sofrimento, tirou o fardo dele, mas ele imediatamente o retomou. Assim esse infeliz fazia sua jornada carregando o fardo de seus pecados. Até que um índio, suas maiores vitimas, cortou a corda que prendia o saco, que caiu pela ribanceira e foi parar dentro do rio, fora do alcance do penitente. Ele precisava aceitar que no passado pecou muito. Aceitar que não era um homem puro, o mal morava no mais intimo do seu ser, aceitar o perdão de Deus, se perdoar, e aceitar ser acolhido na comunidade.

      De agora em diante, pois, já não há condenação alguma para aqueles que estão em Cristo Jesus. A lei do espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte  (Rm 8,1-2).

      O remédio que liberta do medo do julgamento de Deus é a entrega amorosa e confiante nas mãos do Senhor. É a confiança total na misericórdia e no perdão de Deus. Se entregar como criança no colo da mãe e deixar-se purificar pelo amor de Deus. No amor o medo do julgamento, a culpa e agressividade desaparecem. No amor a desconfiança que leva à inimizade com Deus desaparece. A alma saciada é curada do desamor. Paro de me castigar pelos meus pecados. Tomo sobre mim a palavra de Jesus: “Vá, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11b).

Vamos rezar com o Salmo 131(130) pedindo ao Senhor a graça do abandono confiante nas suas mãos amorosas:

Senhor, meu coração não é pretensioso,
meus olhos não são arrogantes.
Não ando à procura de grandezas
nem de maravilhas fora do meu alcance.
Pelo contrário, estou sossegado e tranqüilo;
como criança saciada no colo da mãe,
como criança saciada, minha alma está em mim.
Israel, põe tua esperança no Senhor,
desde agora e para sempre!

sexta-feira, 2 de março de 2018

A LIBERTAÇÃO DO MEDO - 2


 Segundo medo: medo de conflitos.

      Este medo afeta nossos nossos relacionamentos, dificulta a tomada de decisões, sair de situações desgastantes ou abusivas, em deixar coisas, pessoas, etc. Nos faz ficar em cima do muro, fugindo de dar nossa opinião clara e por isso muitas vezes somos mal compreendidos. Mas quando não tomamos decisões por medo de conflito o conflito só cresce dentro de nós e pode acabar explodindo numa postura de ataque. Quando isso acontece acabamos nos machucando e machucando os outros a nossa volta. Depois de uma explosão de raiva num conflito sempre ficamos envergonhados por não termos reagido com mais calma. Mas, numa situação de coação num conflito prolongado, quando já fugimos muitas vezes, é fácil partir para o ataque.

      Quem vive com medo de conflitos vive pisando em ovos e desta forma nunca conhece a paz verdadeira. Sua paz interior é distorcida, está baseada na ausência de conflitos.
Qual pode ser a raiz do medo de conflitos?

       Uma das causas pode ser o zelo excessivo pela auto-imagem. Se eu me posicionar o que vão pensar de mim? Imagine! Vou quebrar minha imagem diante dos outros. A raiz deste pensamento é o orgulho. Outra causa pode ser a preguiça, pois, resolver conflitos dá trabalho. Muitas vezes precisamos quebrar a casa para reformá-la, e temos preguiça de reformar uma relação ou situação. Ou pode ser o medo de perder o amor, a estima das pessoas. Medo de ser abandonado e ficar só.

       O remédio para a cura do medo de conflitos é entregá-lo a Jesus. Ele diz: “Vem. Não tenhas medo”. Não tenhas medo de entregar-se ao amor de Deus que cura sua insegurança. O Senhor, que te amou primeiro, deseja te libertar do medo.

Quando entregamos o medo de conflitos nas mãos de Deus ficamos livres para dar às pessoas o que elas precisam naquele momento. Às vezes uma palavra ou gesto de firmeza, outras vezes uma palavra ou gesto de ternura. Isto é viver a justiça de Deus: dar a cada um o que ele precisa no momento para crescer como pessoa. Quando somos livres do medo de conflitos o Espírito Santo infunde em nós a sabedoria para vivermos a justiça.

     No amor não há temor, pois o amor perfeito joga fora o temor. Temor supõe castigo, e quem teme não é perfeito no amor. Nós o amamos, porque ele nos amou primeiro  (1Jo 4,18-19).
      Senhor Jesus,te  entrego o medo de conflitos presente em meu coração. Seja qual for a raiz desse medo eu creio que o Senhor pode arrancá-la e me curar e libertar. Senhor, entre na mansão dos mortos que o medo formou dentro de mim. Solte as minhas cadeias. Liberta-me do orgulho, preguiça, e medo da solidão. Senhor, perdoa os pecados que cometi por causa do medo de conflitos. Peço perdão a todos que ofendi em minhas explosões. Enche-me do teu amor que supera todo medo. Vem Senhor Jesus, meu libertador. Amém.

quinta-feira, 1 de março de 2018

A LIBERTAÇÃO DO MEDO


      Na Bíblia Deus nos fala muitas vezes “Não tenhas medo!” A primeira fala de São João Paulo II ao ser eleito Papa foi: “Não tenhais medo! Abri as portas para Cristo”. Na fala do Papa temos o mal e o remédio.  Só Jesus Cristo pode verdadeiramente nos libertar do medo. Proponho a você caminhar durante seis dias pedindo ao Senhor a cura de feridas profundas – o medo geralmente vem da ferida do desamparo, do abandono - e a libertação do medo. Vou trazer aqui alguns medos que o Senhor me inspirou em oração, mas você pode descobrir outros que perturbam sua vida. Desejo que a reflexão destes medos possa te levar a identificar os medos que mais te amedrontam.

Primeiro medo: medo de viver a pureza, a castidade.

      Trago o medo de viver a pureza como o primeiro porque ele está enraizado profundamente em nós e muitas vezes não o identificamos. Mas primeiramente precisamos identificar o que é a castidade. Muitas vezes pensamos que castidade é se abster totalmente da prática sexual. Castidade é viver santamente a prática sexual conforme seu estado de vida. A vivencia da castidade é uma para os casados e outra para os solteiros e celibatários. Viver a castidade conforme meu estado de vida é viver a pureza. Muitos casais não conseguem ter comunhão de amor na vida sexual porque um deles ou os dois experimentou uma prática sexual desordenada antes do casamento.

       Numa sociedade erotizada como a nossa é fácil associar o prazer com a prática sexual e por isso rejeitamos, no mais profundo do ser, a vivência da pureza. Muitas vezes encontramos pessoas que se submetem a um relacionamento abusivo pelo medo de ficar sem a prática sexual. A pergunta que assombra a muitos é: E se eu não tiver mais o prazer sexual? Isto gera em nós um permanente estado de angústia e frustração. A angústia e frustração gera em nós a raiva, a ira contra nós mesmos – nos tornamos dispostos a tudo para ter prazer sexual -, contra o outro que de alguma forma me rouba este prazer, contra a vida, e até mesmo contra Deus.

      Este estado de angústia e frustração nos impede de viver plenamente o prazer da sexualidade que está presente em todo nosso ser e não se resume ao ato genital. Buscamos o prazer sexual como fuga da solidão e o desejo de comunhão, de me fundir no outro. Mas se deixarmos este desejo ir além, em direção àquilo que realmente minha alma anseia, ele pode ser benéfico.

        O remédio é entregar o medo a Jesus e deixar-se abraçar por Ele. E se identifico que houve um tempo ou momento que este medo entrou em meu coração, posso voltar àquele momento de perda e desamparo e deixar que Jesus carregue sobre Si o meu medo. Deixar que o Senhor arranque o medo que grudou em mim como uma erva daninha.

“Ó Deus, cria em mim um coração puro e renova-me por dentro com um espírito decidido!”  Sl 51(50),12
   Senhor Jesus, cordeiro sem mancha, lave o meu ser com as águas puras do Espírito Santo. Dá-me a alegria da pureza. Que meus desejos, pensamentos, sentimentos, meus olhos, minhas palavras, e tudo mais em mim seja puro. Leva-me à nascente das águas do batismo onde fui gerada no amor do Pai. Cura as feridas da prática sexual desordenada. Lave a minha mente de toda e qualquer pornografia que pode ter me prendido em suas garras. Que o fogo do Espírito Santo queime toda impureza que pode estar gravada no meu inconsciente. Maria Imaculada, Mãe de Jesus, nos ajude a viver a pureza. Amém