E o deserto florescerá!

E o deserto florescerá!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A CURA DA VIDA

       A graça de Deus flui sempre como um riacho que jamais se esgota em nosso espírito. É a graça ordinária, quer dizer, a que precisamos para viver a fé no cotidiano da vida. Essa é a graça que basta conforme 2Cor 12,9. Mas as vezes precisamos de uma graça extraordinária, não apenas um pequeno riacho, mas um rio caudaloso que transforme nossa vida e nos sustente nos momentos de dor profunda ou perda dolorosa. Aqueles momentos da vida em que pensamos não suportar, e, ao olharmos para trás, percebemos que realmente o Senhor nos carregou no colo.

É Ele quem perdoa inteiramente a tua falta
E cura todos os teus males.
Ele resgata tua vida do fosso
E te coroa de fidelidade e de ternura.
 (Sl 103(102), 3-4).

       As vezes a vida de uma pessoa foi a tal ponto ferida que ela precisa da graça de cura da vida. A cura da vida é mais do que receber a cura para este ou aquele trauma; vai além da cura física ou interior. Pode começar com uma cura interior, mas cura também fisicamente e transforma a mentalidade da pessoa. É curar a raiz da vida, traumas profundos que marcam e influenciam toda a vida da pessoa a ponto de mudar o seu jeito de ser.
 Como se uma pedra bloqueasse o fluir da fonte da vida tornando-a um deserto árido, onde não há socorro nem ajuda possível de nenhum ser humano em sua solidão. A causa de um trauma assim profundo pode ser algo que aconteceu  no início da vida – ainda no ventre materno e na infância – geralmente algo que a pessoa sofreu: tentativa de aborto, abuso sexual, agressão ou abandono, da parte das pessoas mais próximas... Ou algo que fizemos a nós mesmos na adolescência ou juventude. 

        Para curar a vida precisamos abrir todo nosso ser, com total confiança, sem nada esconder, diante de Deus nosso Pai criador, por Jesus Cristo, Cordeiro de Deus que carregou sobre si as nossas dores (Is 53,4), na luz do Espírito Santo; a ajuda, o acompanhamento, de uma pessoa com sabedoria e misericórdia para “sarar os corações feridos” (Is 61,1) pode ajudar no processo de restauração.

        A cura da vida geralmente acontece com uma graça inicial extraordinária, mas precisa de tempo e por isso vai se realizando numa escala progressiva. O tempo necessário para a pessoa redescobrir a si mesma, e se ver conforme o olhar de Deus, num processo de ressurreição já aqui nesta vida. É a graça do amor do Pai que vai nos restaurando segundo à imagem do seu Filho, Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6).






Se você acha que precisa de cura da vida oremos juntos:







                    Senhor, meu Deus e Pai, abro agora o livro da minha vida diante de vós, por Jesus, teu Filho amado, no Espírito Santo. Somente o Senhor conhece toda a minha vida, nada te é oculto, sabes tudo a meu respeito. Por isso abro o livro da minha vida diante de vós com toda confiança. O seu amor, misericórdia e perdão me envolvem totalmente neste momento. Não só envolve por fora, mas traspassa todo o meu ser, cada célula do meu corpo, cada experiência traumatizante, pensamento, sentimento, medo, culpa,... que já vivi.

      Ó Pai, eu te peço perdão por todas as vezes que eu não vivo esta entrega, este abandono confiante em tuas mãos. Cura, Senhor, as feridas dolorosas da minha vida que afetam o meu relacionamento contigo, comigo mesma e com as pessoas. Afetam o entregar-me amorosamente em tuas mãos. No meu abandono o Senhor me toma no colo e segura forte. Eu preciso viver assim, meu Deus, segura em teus braços; se eu quiser me afastar busca-me como a ovelha perdida. Dá-me agora, Senhor, a cura da vida que eu preciso. Dá-me a obediencia e paciência para entrar no processo de ressurreição que o Senhor tem para mim. Se for do seu agrado, Senhor, coloque em meu caminho alguém que me ajude,  que seja instrumento teu para mim. Amém.



quarta-feira, 22 de junho de 2011

VIVER COM ALEGRIA





“Anda, come teu pão com alegria e bebe contente teu vinho, porque Deus se agrada de suas obras” (Ecl 9,7).





        Este texto do livro do Eclesiastes trás o convite para vivermos com alegria e a razão para isso. Primeiro, para vivermos com alegria precisamos reconhecer que a  vida é dom de Deus e por isso devemos ter respeito por ela, reconhecendo que a vida não me pertence, ela pertence a Deus e me foi dada como presente. Quando reconhecemos isso ficamos livres para saborear a vida com alegria.

       Mas diante de tantos apelos e vozes do mundo dizendo como aproveitar a vida, facilmente podemos nos enganar e tomar um caminho errado. Então, precisamos responder à pergunta: O que é saborear a vida? Em primeiro lugar é realizar o sonho que  Deus sonhou para mim ao me criar: “Senhor,  fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti” (S. Agostinho). Tudo o mais vem por acréscimo (Mt 6,33). Quando ouvimos a voz do Senhor e o seguimos empenhamos  toda nossa vontade em descobrir o sonho de Deus para nós, procurando tirar os enganos do coração. Isto é conversão. A palavra do Eclesiastes convida a abandonar-me inteiramente ao Senhor, vivendo o momento presente sem querer reter nada, pois tudo passa.

     O segundo movimento é a razão de vivermos com alegria: ...”Deus se agrada de suas obras”. Para isso precisamos discernir a voz do Senhor da voz do mundo e da voz do inimigo que procuram nos desviar do sonho de Deus. A voz do mundo sempre nos convida a viver sem responsabilidade, sem pensarmos nas consequências de nossos atos, em ir atrás de falsos profetas. A voz do inimigo nos leva ao pecado, ao afastamento de Deus: “O ladrão só aparece para roubar, matar e levar à perdição” (Jo 10,10). Pessoas e situações, as vezes encantadoras, imprudentes, sedutoras, vem com aparência de bem ou inofensivas, mas é um mal e quer nos afastar do sonho de Deus e nos fazer perder a graça.

       Podemos imaginar que temos diante de nós duas portas. Uma está aberta e por ela entra a luz do sol; através dela eu vejo um jardim com flores, borboletas, passarinhos, uma fonte de água... e além do jardim um campo aberto muito verde, com árvores, montanhas e vales, um lugar cheio de vida e alegria. A outra porta está fechada, mas se eu quiser posso abri-la. Por ela entrará o desejo de poder, o consumismo, o apego, a angústia, a amargura, a tristeza, a raiva, o ressentimento, a mágoa, a doença da alma, do espírito, do corpo... entrará o pecado que rouba a vida e amizade com Deus.

Peçamos o socorro de Deus:

 Vem Espírito Santo, Senhor que dá a vida,
 dá-me o dom do discernimento dos espíritos,
 para que eu reconheça a voz de Jesus Bom Pastor,
 e, reconhecendo, abra a porta do meu coração para Ele.
Ó Espírito da Verdade,
dá-me a graça de reconhecer  também a voz do mundo
e a voz do inimigo, do sedutor,
disfarçado em tantas situações.
e dá-me força de fechar para ele a porta da minha vida.
Amém.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

VINDE, ESPÍRITO SANTO

       No último dia da festa, que é também o mais solene, Jesus, de pé, pôs-se a proclamar em alta voz: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Aquele que crê em mim, como disse a escritura: ‘Do seu seio jorrarão rios de água viva’”. Jo 7,37-38 

      A graça de Deus é como um rio que corre sobre a terra e por onde passa vai trazendo fecundidade. Esse rio se espraia em muitos braços fecundando uma grande extensão de terra. O rio é o Espírito Santo, dom de Deus, que se espraia em muitos dons na multiformidade da graça. Quando usamos os dons em favor dos irmãos fazemos chegar a fecundidade da graça em suas vidas. Onde chega essa água viva há vida, amor, paz, alegria, confiança, esperança. Não podemos bloquear o rio, e o desejo de Deus é que ele se espraie mais e mais. O Senhor conta conosco, somos os canais da graça de Deus.

      O Espírito de Amor nos leva a caminhar em direção ao “sol da justiça que traz a cura em seus raios” (Ml 3,20), Jesus Cristo meu Senhor! Nos convida a deixar o que fica para trás e caminhar em novidade de vida, vida que é transformada, mas não se acaba na esperança da glória. E a cada manhã o Espírito Santo desperta o meu ser para oferecer a minha vida num sacrifício de louvor. Ser, me tornar, a Eucaristia celebrada. E ao terminar o dia o por do sol me lembra que mesmo na escuridão da noite o Senhor vela por mim, e “certa como a aurora é a sua vinda” (Os 6,3). Posso viver em segurança e adormecer em paz como reza o salmista: “Em paz me deito e logo adormeço,  pois só tu Senhor, me fazes viver em segurança” (Sl 4,9).

 Oremos com confiança:

Ó Espírito Santo, amor do Pai e do Filho, que nos consola em todas as nossas tribulações, atraí-nos cada vez mais para a face misericordiosa do Divino Redentor. À luz de sua face experimento a bondade e ternura de Deus, sou amada e confirmada como filha. Respiro a atmosfera divina, sou curada das dores e perdas da vida, sou lavada da culpa, libertada das mágoas e ressentimentos. A sua graça me transforma.
Te entrego, Senhor, tudo o que é importante para mim e todas as pessoas que eu amo. Te entrego também tudo o que endurece o meu coração. Dá-me, Senhor, um coração livre, aberto, manso e humilde. Dá-me um coração rendido a Ti, um coração que ama e deseja ardentemente fazer vossa vontade. Dá-me um coração acolhedor, sempre disposto a amar e servir os irmãos. Amém.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

UM CORAÇÃO ABERTO

“Uma delas, chamada Lidia, era comerciante de púrpura, originária da cidade de Tiatira, que já adorava a Deus. Ela era toda ouvidos; pois o Senhor abrira-lhe o coração para torná-la atenta às palavras de Paulo. Depois que recebeu o batismo, ela e sua casa, convidou-nos nesses termos: ‘Visto julgardes que eu creio no Senhor, vinde hospedar-vos na minha casa’. E ela os forçou a aceitar” (At 16,14-15).

       Ter um coração aberto é um dom, uma graça de Deus, mas para dar fruto requer uma disposição de nossa parte. Se o dom é de Deus a decisão de  receber a graça, abandonar o meu velho modo de vida e abrir a porta do meu coração para o Senhor, é minha. Sempre me questiono porque em um retiro ou na missa, muitas pessoas ouvem a mesma mensagem, o mesmo anúncio, e uma é tocada pelo amor do Pai, a salvação em Jesus e o dom do Espírito Santo, mas outras pessoas que ouviram o mesmo anúncio ficam indiferentes, seguem com sua vida e nada muda.

         Depois de uma experiência de Deus o Espírito Santo nos leva ao caminho de conversão que consiste em, pouco a pouco,  aceitar o “jugo suave e o fardo leve” do Senhor, em permitir que Ele alargue o meu coração e o meu olhar sobre o mundo, quebre os meus paradigmas, transforme os meus projetos e isto, dependendo dos meus apegos,  pode ser doloroso.  Viver a vida nova é deixar-se conduzir pelo Espírito de Jesus  permitindo que Ele mude meus planos e a minha vida, me levando por caminhos que eu não iria por vontade própria, mas vou por obediência. É permitir que o Senhor me dê um pouco do seu olhar e seu sentir sobre as pessoas, a vida e o mundo.

        Mas quando dou o meu sim para a graça eu posso, como Lídia, ser um instrumento nas mãos do Senhor, permitindo que Ele realize sua obra em mim e através de mim. Então percebo que encontrei o verdadeiro sentido da vida, do amor, da paz e alegria de viver. Realizo o sonho de Deus para mim e coopero para que a salvação chegue aos confins da terra.

         O maior exemplo de coração aberto para Deus  é a Virgem Maria que pode ser cheia de graça porque estava vazia de si: “Salve, agraciada, o Senhor é contigo: bendita és tu entre as mulheres” (Lc 1,28). E correspondeu a Deus vivendo  plenamente a obediência da fé: “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Me lembro de uma pessoa que dizia que quando o Espírito Santo encontra um coração aberto como o de Maria se precipita alegremente sobre ele enchendo-do da graça de Deus.

Oremos juntos:

Ó doce Espírito Santo, força de Deus, amor do Pai e do Filho; vós que vos alegrais ao encontrar um coração aberto para  receber a graça. Espírito de Amor, que gerastes Jesus no ventre de Maria, vem gerar Jesus em mim; dá-me a graça de um coração sempre aberto, disposto à obediência da fé. Faz com que eu seja portadora do Verbo no mundo, no cotidiano da vida. Ó Espírito Santo, amor pleno, penetre no mais profundo do meu ser e cure o que está ferido, regue o que está seco, amoleça o que está duro, abra mais e mais o meu coração para vós. Realize em mim e através de mim o projeto de amor e salvação do Pai. Amém.




quarta-feira, 1 de junho de 2011

VIVEMOS PELA MISERICÓRDIA


      Vivemos pela e na misericórdia de Deus, que no seu infinito amor se debruça sobre nossa fragilidade com bondade e ternura. Com Ele podemos abrir o coração e falar de nossas necessidades mais profundas. Dele recebemos a paz , dom do Cristo ressuscitado. Ele é a nossa paz, e nos livra do inimigo, do acusador.

    As vezes pensamos que nossas fraquezas e limites, nos afastam de Deus, e quando isto acontece ficamos com medo e culpa, como Adão, e nos escondemos (Gn 3,9). Mas é exatamente quando somos mais fracos que o Senhor quer ouvir nosso grito de socorro para se apressar em nos socorrer. Quando confiamos na misericórdia mesmo quando fazemos o que não queremos somos salvos. O Senhor mesmo vai nos libertando dos pecados, dos conceitos e preconceitos, que tolhem nossa liberdade interior: “Foi para a liberdade que Cristo vos libertou” (Gl 5,1).

     Minha alma tem desejos que me ultrapassam. Desejo ter mais liberdade e me vejo tolhida pela realidade humana. Liberdade de correr ao encontro de Deus, para ser mais de Deus, e realizar o sonho de Deus para mim. Mas a todo momento esbarro nos meus limites e muitas vezes “faço o que não quero”(Rm7,15). Gostaria de ter uma oração mais profunda, maior intimidade com o Senhor... gostaria de amar mais aos irmãos, compreender, acolher mais as pessoas. Mas a todo momento esbarro nos limites do meu temperamento, dos traumas, do querer agradar as pessoas, nas sombras dentro de mim. Mas, graças a Deus, aquilo que eu não posso fazer o Senhor faz por mim. Ele vem até a minha fraqueza e a transforma em força. A todo momento me banha no seu amor e misericórdia. Ele toma em suas mãos o pouco que eu consigo fazer e o transforma em graça conforme a sua misericórdia.

     Confiar na misericórdia é deixar para trás a ilusão de grandeza, do poder, do querer reconhecimento. Semear amor onde estiver, viver o pequeno, ser simples. Salpicar a minha vida e a vida do próximo com a alegria dos pequenos gestos de bondade.

     “Mas ele me respondeu: ‘Basta-te a minha graça porque é na fraqueza que a força chega à perfeição’. Portanto prefiro orgulhar-me de minhas fraquezas para que habite em mim a força de Cristo”. (2Cor 12,9).

Quero contemplar a tua glória, Senhor meu Deus. Glória revelada pelo profeta que o apresenta como o Ancião sentado no trono (Dn 7,9-10); a glória do Filho do Homem (Dn 7,13-14); a glória que os apóstolos Pedro, Tiago e João, contemplaram no monte Tabor e nos deixaram o seu testemunho (2Pd 1,16-18). Quero te adorar, Senhor Jesus, Filho de Deus, Filho do Homem. Quero ouvir e obedecer a voz do Pai: “Este é o meu Filho amado, de quem eu me agrado, escutai-o” (Mt 17,5). Amém.