E o deserto florescerá!

E o deserto florescerá!

sábado, 27 de agosto de 2011

A CURA PELO PERDÃO


 "Perdoa-nos nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam"  (Mt 6,12).

       Seja qual for a raiz do trauma o perdão sempre é fonte de cura. Em primeiro lugar pedir perdão a Deus pois somos pecadores e o pecado que cometemos nos fere profundamente. Fere nossa alma, pois nos afasta de Deus, e fere o nosso corpo sendo muitas vezes causa direta ou indireta de doenças físicas e emocionais.

       Outra face importante do perdão é aquele que precisamos dar a nós mesmos. É muito comum encontrarmos pessoas que acham mais fácil perdoar aos outros do que perdoar a si mesmo. Mas o perdão a si mesmo é necessário para experimentarmos a misericórdia de Deus e precisamos fazer as pazes conosco mesmo.

       Depois precisamos perdoar a quem nos ofendeu. Não se trata aqui de fazer de conta que não houve ofensa. Para dar o perdão preciso reconhecer que fui ofendido, que aquele mal me foi feito.  Se um mal me foi feito quem me fez o mal me deve alguma coisa. O perdão vem quando decidimos rasgar o título da dívida que temos contra o outro, reconhecendo que aquela pessoa não tem com o que nos pagar. Como ele não tem com o que me pagar eu também não tenho com o que pagar o mal que fiz àqueles a quem ofendi. O circulo do amor e do perdão se fecha quando também reconheço que preciso do perdão de quem ofendi. Preciso reconhecer que aquela pessoa a quem eu ofendi também tem um título de dívida contra mim e eu não tenho com o que pagar. É importante repararmos o mal cometido, mas quem pode pagar pelo mal feito a outrem? Perdoar também é um processo. As vezes a ferida é muito profunda sendo necessário um tratamento continuado com oração de perdão.

      Jesus, eu me coloco aos pés da tua cruz e em teu nome e pelo poder do teu sangue, trago aqui comigo todas as pessoas que me ofenderam, trairam, caluniaram e até atentaram contra minha vida. O Senhor perdoou aqueles que o crucificavam pedindo ao Pai por eles porque não sabiam o que faziam. Olhando para o Senhor eu abro mão da raiva e do desejo de vingança e humildemente reconheço que muitas vezes quem me ofendeu não sabia o que fazia. Aos pés da tua cruz, Jesus, eu rasgo agora o título da dívida que eu guardava contra essas pessoas. Eu as perdoo em teu nome, Senhor.

     Trago agora em tua presença aquelas a quem eu ofendi, a quem  fiz mal de alguma forma. E humildemente peço perdão pelo mal que eu lhes fiz. Aqui aos pés da cruz percebo que há lugar para todas e peço Senhor a graça de incluir todas essas pessoas – as que eu ofendi e as que me ofenderam – no meu coração. Que o Senhor as abençoe e lhes dê sua paz. Encha Jesus o meu coração do seu amor, do Espírito Santo consolador, me libertando de toda e qualquer mágoa e ressentimento. Amém.

sábado, 20 de agosto de 2011

A CURA INTERIOR



“Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo aquele que nele crer não morra mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).

       A base da oração de cura - física, emocional e espiritual - é que Deus nos amou primeiro. Por isto podemos apresentar, com confiança, a Ele nossas feridas, nossas dores, na certeza que Ele se compadece de nós: “Ao desembarcar, viu uma grande multidão de povo e, sentindo compaixão, curou os seus enfermos” (Mt 14,14). Deus nos cura porque nos ama e o mal maior da humanidade é o desamor, a experiência de não ser aceito, não ser amado, como nos fala Madre Teresa de Calcutá: “A mais terrível pobreza é a solidão e o sentimento de não ser amado. A maior doença hoje não é a lepra ou a tuberculose ou aids, é, antes, o sentimento de não ser desejado”.

        Os traumas são feridas emocionais profundas as vezes mais dolorosas que feridas físicas, pois, quem sofre por causa de traumas muitas vezes experimenta que não há remédio para sua dor. Em tal situação muitos fogem para os vícios numa tentativa de entorpecer a dor, outros ficam na alienação, na fuga da realidade ou ainda buscam refúgio na depressão.

       Os traumas afetam a memória, a vontade e a liberdade. Afeta a memória pois quando estamos sob o domínio de uma experiência traumática, tudo o que lembramos da infância por exemplo, lembramos sob ótica da experiência dolorosa vivida. Afeta a vontade porque nossa ação, a decisão de fazer isto ou aquilo, e até a coragem e força para buscar o próprio desenvolvimento é influenciado pela dor interna que muitas vezes nos incapacita. Diante de tal quadro é fácil perceber como afeta a liberdade, ficamos condicionados e nos acostumamos a viver dominados pela dor que nos leva a acreditar que não temos saída. E para fugir da dor podemos ser levados aos vícios como a dependência quimica, a desordens e desvios sexuais, à depressão, à comportamentos autodestrutivos, e até ao suicídio. 

  • ·         Os traumas podem ser herdados – por exemplo uma mãe que tem pavor de água passar para os filhos o mesmo medo.
  • ·         Passados – algo que nos aconteceu desde o ventre materno. 
  • ·         Recentes ou presentes – algo que estamos vivendo ou vivemos recentemente.

       Podemos ver que todos precisamos de cura interior, uns mais outros menos. A boa notícia é que o Senhor sempre quer nos curar: “Aproximemo-nos, pois, com confiança do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio no tempo oportuno” (Hb 4,16). É Jesus que cura! Podemos abrir sem reservas as feridas dolorosas da alma e permitir que Jesus as  toque e cure. Unindo nossa dor com a vida de Jesus permitimos que Ele transforme nossas feridas de dor em feridas de amor.

        Jesus, vem caminhar comigo na história da minha vida desde o momento em que eu fui gerado no ventre materno. Eu sei, Senhor, que tudo o que me aconteceu está diante dos teus olhos e para o Senhor todo o tempo é presente, minha vida é um grande hoje diante de vós. Jesus, eu tenho conhecimento de algumas coisas que me aconteceram, outras eu desconheço mas todas estão gravadas em minha memória e continuam influenciando a minha vida.  Por isto te peço, Senhor, cure agora todo registro do meu inconsciente. Toda e qualquer experiencia traumática registrada em minha memória e meu sistema nervoso. Te apresento, Senhor, se corri o risco de morrer, se houve ameaça de aborto; as doenças, o estado emocional e situação de vida dos meus pais quando fui gerado; as dificuldades que vivi no momento do nascimento, o medo, a insegurança, o complexo de inferioridade por não ser aceito e amado como eu precisava. Cura-me, Senhor. Dá-me, Jesus, aquele abraço amoroso que as vezes me faltou. Que eu possa ouvir por Ti a voz do Pai que me diz: “Tu és o meu Filho amado, de ti eu me agrado” (Mc 1,11). Amém.

domingo, 14 de agosto de 2011

VOLTAR PARA CASA


      Quem não já experimentou o refrigério de chegar em casa quando lá fora soprava um vento frio que penetrava nos ossos, ou um calor intenso num sol escaldante? Chegar em casa, se agasalhar, tomar um chá ou uma sopa quente quando se vem do frio ou beber um copo de água fresca, tirar a roupa suada, tomar um banho frio quando o calor nos maltrata. Como é bom ter a sensação de chegar em casa, ter um lugar onde se sinta em casa.

     As vezes podemos viver a experiência de estarmos fora de casa nas situações da vida – perigos, insegurança, perdas, desamparo, lutas diarias, stress, doenças, dificuldades... – que nos roubam as forças físicas e emocionais. Quando estamos assim precisamos nos recolher e experimentar o refrigério, o balsamo, a consolação que encontramos em nossa verdadeira casa, o ser profundo, sacrário da alma, templo santo de Deus. Onde eu encontro o doce Hóspede da alma que habita em mim e é mais íntimo de mim do que eu mesma.

        O lugar onde podemos nos sentir verdadeiramente em casa é o Coração de Jesus, no colo amoroso do Pai, no abraço consolador do Espírito Santo. Quando entramos no coração de Jesus, aberto pela lança, nos escondemos na fenda da rocha onde encontramos abrigo e proteção, onde experimentamos ser profundamente amados e aceitos como somos. Aí o Senhor me chama pelo nome, me diz quem sou, e me dá uma missão. Ouça a voz do Bom Pastor, a voz do Amado que diz: “Eu te aprecio e te amo” (Is 43,2). Quando faço a experiência do amor de Deus sinto que não preciso mais depender da aprovação dos outros porque eu experimento que sou amada como sou e como estou. Então, fico livre para amar.

     “Quando a minha glória passar, eu te porei na fenda da rocha e te cobrirei com a mão enquanto passo”  (Ex 33,22).
O Senhor te cobre com sua mão e te protege. Ele te ama, quer ser seu amigo. Deixe-se envolver pelo amor de Deus.

      Jesus, Bom Pastor, vem buscar a ovelha que não consegue voltar para casa. Cura-me, Salvador poderoso, do abandono, do desamparo, do desamor, da tristeza, da angústia, do medo, da insegurança, da ansiedade... Abriga-me na fenda da rocha do seu Coração. Entre agora no meu coração, luz que ilumina minhas trevas, vida da minha vida, meu Senhor e meu Deus. Mude minha mente e meu coração. Dá-me a graça de caminhar em novidade de vida por todos os meus dias. Amém.

domingo, 7 de agosto de 2011

O RIO DA VIDA


       “Não te envergonhes de confessar os teus pecados, não resistas à correnteza do rio”  (Eclo 4,26).

        Não resistir à correnteza do rio quer dizer não me opor ao rio da vida que me leva muitas vezes por onde não quero ir. Existem algumas situações na vida diante das quais é inutil lutar, seria como lutar contra a correnteza de um rio. Como não posso parar a correnteza do rio não posso deter o rio da vida com tudo o que ela me traz de bom ou ruim, preciso entregar-me e deixar que ele me conduza para o mar que é Deus.

        Mas não podemos simplesmente nos entregar e viver sem lutar por algo melhor, por dias melhores. Contra algumas coisas devo lutar, diante de outras preciso reconhecer que só me resta aceitar e me adaptar procurando, com a graça de Deus, tirar o melhor do que a vida me traz. Para distinguir entre umas e outras preciso do socorro do alto, do discernimento, da sabedoria do Espírito Santo. 

    Há situações em em que me opor à correnteza do rio é lutar por uma vida melhor, e em outras opor-me é um ato de pura rebeldia. Por exemplo, lutar para sair de uma situação de pecado, de um vício, de uma dependência emocional que me escraviza, lutar para melhorar de vida, melhorar a saúde, estudar, procurar um trabalho melhor para sair de uma situação de pobreza, é necessário para nos realizarmos como pessoa. Mas não adianta nos rebelarmos diante de uma doença genética, contra o temperamento – que pode ser melhorado, mas não mudado -  ou os anos que passam trazendo novas fases da vida, nem diante das decisões que uma pessoa próxima a nós toma e que nos atinge, e muito menos diante da morte. Diante destes e de outros fatos semelhantes preciso acolher a realidade e adaptar-me para viver feliz. Se fugir diante de situações semelhantes só aumentarei meu sofrimento e frustração.

       A sabedoria está em acolher a minha realidade permitindo que o Senhor entre nela e me ensine a viver, sem ficar reclamando das coisas que eu não posso mudar, ficando amarga e endurecendo o meu coração. Permitir que o Senhor me ensine a saborear a vida, e na minha realidade encontrarei  alegria e esperança, pois Jesus prometeu: “Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo”! (Jo 16,33).

       Senhor Jesus, muitas vezes tenho medo da realidade e a rejeito porque ela me faz ver minha pequenez e meus limites. Tantas vezes fuji para não vivê-la intensamente. Mas hoje, Senhor, eu quero, junto contigo, acolher a minha realidade, deixar de me opor à correnteza do rio. Senhor, cura  a criança em mim que se sente desprotegida e tem medo.  Sei, pela fé, que o Senhor está comigo e me fará descobrir tesouros ocultos em meu interior e em minha vida.  Tesouros que só encontrarei acolhendo a minha realidade. Vinde Espírito Santo, dá-me discernimento e sabedoria para bem viver. Amém.