“Digo-vos, pois, irmãos: o tempo é curto. De
resto, os que têm mulher vivam como se não a tivessem; os que choram, como se
não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram,
como se não possuíssem; e os que usam deste mundo, como se dele não usassem,
porque a aparência deste mundo passa”
(1Cor 7,29-31).
Neste texto Paulo
apresenta um programa de vida na vivência do desapego. Mas quem consegue
vivê-lo integralmente? Eu luto para colocá-lo em prática, mas um dia consigo,
outro não. As vezes penso ter caminhado um pouco e aí me deparo com uma queda e
parece que não dei passo algum. Só me resta pedir ao Espírito Santo que faça em
mim o que eu não consigo fazer com minhas forças, por mais que eu queira.
Há quem diga
que a raiz de todo sofrimento é o apego. Não vou dizer isto pois sei que há
muito mais no mistério do sofrimento humano. Mas é verdade que todo apego traz
sofrimento. Para comprovar isso basta você olhar mais profundamente para o que
causa a maior parte de seus sofrimentos e dores. Então, chegamos à conclusão de
que precisamos aprender, praticar, viver, o desapego.
A nossa vida
é uma sucessão de desapegos. Vejamos: o primeiro desapego é sair do útero
materno, nascer. Depois vem o desapego da infância, por melhor ou pior que ela
tenha sido, precisamos deixar para traz. Desapegar da adolescência e suas
inconsequências, quando pensávamos que nada de mal ia nos acontecer e que
tínhamos todo o poder. Hoje, infelizmente muitos não passam dessa fase da vida,
por causa das drogas, da violência e imprudência no trânsito. Depois vem o
desapego da juventude. Precisamos nos desapegar dos projeto de vida que fizemos
na juventude – realizados ou não – para
bem viver a maturidade. Amados, vemos que as perdas acontecem durante toda a
vida, mas na maturidade e na velhice parece que elas se acumulam. Vivemos o
desapego dos filhos, dos netos, do trabalho profissional, muitas vezes da
saúde, e é necessário aceitar as diversas limitações que a vida e a idade nos
trazem. Parece desanimador? Na verdade não é. O Senhor caminha conosco e sempre
nos convida a abrir-nos para o novo, para coisas novas ou sonhos antigos, que
ficaram guardados e que podemos realizar nesta fase da vida.
A morte nos
leva ao último desapego: despedir-me do meu corpo. Isto certamente é o mais dificil
pois eu não apenas tenho um corpo, eu me identifico com ele – sou o meu
corpo. Através do meu corpo é que me expresso, me relaciono, me torno presente
no mundo. Mas chegará um momento em que eu precisarei desapegar-me do meu corpo.
Despedir do meu cérebro e de todas as forças maravilhosas que sustentam a minha
vida: a inteligência, a consciência, o livre arbítrio, os pensamentos,
sentimentos, emoções, a criatividade, a capacidade amar, de começar de novo,
de relacionar-me, etc.
Mas, pela fé,
eu não deixo o meu corpo para ir para o nada, o vazio. Eu o deixo o por um tempo para ir para a fonte da vida: Deus. Em Deus um dia meu
corpo será transformado num corpo espiritual, belo e livre. A morte não é
o fim, mas o começo de uma vida nova em Cristo Jesus, o Senhor que venceu a
morte.
Vamos
orar?
Vinde Espírito Santo libertar-me dos apegos
que me prendem e fazem sofrer. Senhor, minha vida está em vossas mãos. A vós
entrego meus sonhos, desejos, e aquilo não consigo mudar em mim e fora de mim.
O Senhor é o meu socorro, em vós espero. Olhando para minha vida vejo que o
Senhor providênciou o necessário e me deu em acréscimo. O Senhor me livrou de muitos perigos e me trouxe até aqui,
à esta fase da vida. Senhor, liberta-me do medo da morte. Com confiança eu vos entrego todos e tudo a que ainda estou apegada. Amém.
“E,
quando este ser corruptível se revestir de incorruptibilidade e este ser mortal
se revestir de imortalidade, então se cumprirá o que está escrito: A morte foi
tragada pela vitória. Morte, onde está tua vitória? Morte, onde está teu
aguilhão?”
(1Cor
15,54-55).