Todos
os rios correm para o mar, e contudo o mar não fica cheio; para onde os rios
vão, para lá tornam a ir. (Ecl 1,7)
No final de semana fui com uma amiga à Vila
de Regência, na foz do rio Doce. Contemplando a beleza do encontro do rio com o
mar - tão belo que deu vontade de ficar ali, só contemplando - ficamos
conversando sobre coisas da vida, coisas de Deus.
Olhando para a foz do rio ficamos
refletindo sobre onde ele nasceu e os lugares por onde passou... Um rio nasce
pequenino, apenas uma fonte que brota da terra, e começa sua caminhada por
vales e montes, onde às vezes forma belas cachoeiras. Ao longo do caminho vai
recebendo água de pequenos riachos ou córregos maiores... vai crescendo seu volume d’ água, podendo se
tornar um rio caudaloso. Um grande rio.
O rio corre sobre a terra e por onde passa
vai fazendo o bem. Ele fecunda a terra às suas margens, fornece água para as
pessoas, os animais e as plantações. Não por acaso os nossos antepassados construíram
as vilas e cidades às margens de um rio. Por isso ele também foi desrespeitado
e poluído por nós. Assim o rio corre até chegar ao mar, seu destino final.
Podemos comparar nossa vida com um rio.
Nascemos pequenos, indefesos, precisamos do cuidado de outro ser humano para
que a vida se desenvolva em nós. Como o rio, recebemos influência de muitas
pessoas – família, amigos, professores, sacerdotes... Muitas pessoas nos formaram e contribuíram um
pouco para nos tornarmos quem somos. Algumas pessoas marcaram negativamente nossa
vida, nos machucaram... Elas também contribuíram com alguma coisa para nossa
vida, pois no projeto de Deus nada se perde: Nós sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam
a Deus, dos que são chamados segundo seu desígnio. (Rm 8,28).
Como precisamos respeitar o rio – não o
poluindo ou construindo muito perto de suas margens – precisamos respeitar a
nós mesmos não poluindo nossa alma e nosso corpo com o pecado,
desequilíbrios e maldades que somos tentados a fazer. Da mesma forma precisamos respeitar o outro que
é filho de Deus, nosso irmão; às vezes marcado por uma história de vida dolorosa,
que têm uma cultura e jeito de ser diferente do nosso. Acolher a nós mesmos,
com nossa luz e sombra, acolher a vida que está em nós, mas não nos pertence,
acolher o outro, acolher e respeitar a natureza, é fonte de sabedoria.
Como o rio corre para o mar nós corremos
para Deus, nosso destino final. Há rios curtos e rios longos. Há pessoas que
vivem um tempo menor e outras vivem longos anos. O tempo que vivemos não
importa. O que importa é corresponder ao sonho de Deus para nós, levando vida,
bondade e beleza, por onde passarmos. Cada dia que passa nos aproxima mais da
nossa foz: o mar de amor e misericórdia de Deus. Ele nos convida a render-nos
numa entrega de amor. Deus é amor
(1Jo 4,8).
Meu Deus e
Pai,como o mar
recebe as águas do rio, em Jesus Cristo, o Senhor me recebe quando vou ao seu
encontro na oração.
E no abraço de amor
e paz o Senhor me perdoa, cura, liberta das dúvidas, medos, angústias,
inquietações...
Ó Espírito Santo lave minhas feridas e devolva-me a dignidade
de filha amada de Deus.
Eu quero entregar-me a Vós como o rio se entrega
ao mar.
Assim seja. Amém.