Desejei
ardentemente comer esta Páscoa convosco antes de sofrer (Lc 22,15).
Neste texto do Evangelho é revelado o
ponto alto da história da salvação: o
amor de Deus que nos deu o seu Filho para nos salvar e reconciliar com Deus,
conosco mesmo, com os outros e com a criação. Por amor Jesus se entrega num
processo de esvaziamento. Nunca podemos esquecer: foi por amor. Por AMOR.
Ele, subsistindo na condição de Deus, não se
apegou à sua igualdade com Deus. Mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a
condição de escravo, tornando-se solidário com os seres humanos. E,
apresentando-se como simples homem, humilhou-se, feito obediente até a morte,
até a morte numa cruz (Fl 2,6-8).
Como Jesus tornou-se solidário com os
seres humanos? Ele entrou na nossa história. Uma história marcada pelo pecado,
pelo orgulho e egoísmo, pelo afastamento de Deus, e por isto, pelo sofrimento.
Ele aceitou viver a nossa vida, morrer a nossa morte, para nos ressuscitar com
Ele.
As consequências de entrar na história
humana foi viver o que todos nós vivemos: a traição, a negação, a condenação à
morte. A incoerência do ser humano revelada nos gritos de júbilo e de desprezo da
multidão: Hosana! Crucifica-o! Mas Jesus experimentou também a bondade humana
na ajuda de Simão de Cirene. Quantas vezes no calvário da nossa vida
encontramos um cirineu para nos ajudar a levar nossa cruz.
Talvez algo nos passe despercebido no
grande drama da Paixão: o mundo se levanta para julgar Deus! O ser humano, na
loucura do orgulho, pensa que está apto a julgar o próprio Deus! Vemos isso
hoje nas ideologias que governam o mundo e pouco a pouco vão manipulando o
pensamento humano e nos fazendo pensar que o certo se tornou errado. Exemplos
claros do julgamento de Deus pelo homem: O aborto e a ideologia de gênero. No caso
do aborto temos uma sentença de morte contra um ser humano negando a ele o direito mais fundamental: o direito à vida. Na ideologia de gênero vemos que o ser humano se coloca no lugar de
Deus e quer revogar a lei mais básica da vida: E Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem
e mulher ele os criou (Gn 1,27).
Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do
Pai (Papa Francisco). Deus não se cansa de perdoar, de esperar por nós, e de
nos buscar para nos dar uma vida nova. Crucificado, Jesus perdoa: (Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que
fazem. Lc 23,34), e se entrega nas mãos do Pai: (Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. Lc 23,46). O Pai o
ressuscitará: A este Jesus Deus
ressuscitou, e disso todos nós somos testemunhas (At 2,32).
A Cruz de Cristo é a única coisa estável
neste mundo em convulsão. Tudo mais passará. Tudo passa. As ideologias, os ditadores
e poderosos deste mundo, a dor e a morte... tudo passa. A Cruz levantada no
Calvário fica estável. Os poderes do mal e do mundo nada podem contra ela: Jesus Cristo é o mesmo ontem hoje e por toda
a eternidade (Hb 13,8). Se ficarmos aos pés da Cruz com Maria, as outras mulheres
e o discípulo amado, estaremos protegidos do poder das trevas. Nossa vida está
fincada na Rocha que é Cristo.
Que nesta Páscoa o Espírito Santo nos
ajude a levarmos a Cruz de Cristo como discípulos, dando testemunho com nossa
vida. E juntos com Jesus possamos também nós levar a nossa cruz – os pecados, traumas,
doenças, traição, rejeição, violência, abandono, solidão, morte... A Cruz de Cristo
nos leva ao céu. E nós levamos nossa cruz ao céu, pois somos salvos com nossa
história de vida. Assim, unimos nossa passagem por este mundo à Páscoa do
Senhor.
“Teu sangue nos lava
Teu fogo nos queima
O Espírito Santo inunda meu ser”.
Feliz Páscoa!!!