E o deserto florescerá!

E o deserto florescerá!

quarta-feira, 23 de março de 2016

FOI POR AMOR

Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco antes de sofrer (Lc 22,15).

       Neste texto do Evangelho é revelado o ponto alto da história da salvação:  o amor de Deus que nos deu o seu Filho para nos salvar e reconciliar com Deus, conosco mesmo, com os outros e com a criação. Por amor Jesus se entrega num processo de esvaziamento. Nunca podemos esquecer: foi por amor. Por AMOR.

      Ele, subsistindo na condição de Deus, não se apegou à sua igualdade com Deus. Mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo, tornando-se solidário com os seres humanos. E, apresentando-se como simples homem, humilhou-se, feito obediente até a morte, até a morte numa cruz (Fl 2,6-8).

     Como Jesus tornou-se solidário com os seres humanos? Ele entrou na nossa história. Uma história marcada pelo pecado, pelo orgulho e egoísmo, pelo afastamento de Deus, e por isto, pelo sofrimento. Ele aceitou viver a nossa vida, morrer a nossa morte, para nos ressuscitar com Ele.

      As consequências de entrar na história humana foi viver o que todos nós vivemos: a traição, a negação, a condenação à morte. A incoerência do ser humano revelada nos gritos de júbilo e de desprezo da multidão: Hosana! Crucifica-o! Mas Jesus experimentou também a bondade humana na ajuda de Simão de Cirene. Quantas vezes no calvário da nossa vida encontramos um cirineu para nos ajudar a levar nossa cruz.

      Talvez algo nos passe despercebido no grande drama da Paixão: o mundo se levanta para julgar Deus! O ser humano, na loucura do orgulho, pensa que está apto a julgar o próprio Deus! Vemos isso hoje nas ideologias que governam o mundo e pouco a pouco vão manipulando o pensamento humano e nos fazendo pensar que o certo se tornou errado. Exemplos claros do julgamento de Deus pelo homem: O aborto e a ideologia de gênero. No caso do aborto temos uma sentença de morte contra um ser humano negando a ele o direito mais fundamental: o direito à vida. Na ideologia de gênero vemos que o ser humano se coloca no lugar de Deus e quer revogar a lei mais básica da vida: E Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher ele os criou (Gn 1,27).

      Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai (Papa Francisco). Deus não se cansa de perdoar, de esperar por nós, e de nos buscar para nos dar uma vida nova. Crucificado, Jesus perdoa: (Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem. Lc 23,34), e se entrega nas mãos do Pai: (Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. Lc 23,46). O Pai o ressuscitará: A este Jesus Deus ressuscitou, e disso todos nós somos testemunhas (At 2,32).     

       A Cruz de Cristo é a única coisa estável neste mundo em convulsão. Tudo mais passará. Tudo passa. As ideologias, os ditadores e poderosos deste mundo, a dor e a morte... tudo passa. A Cruz levantada no Calvário fica estável. Os poderes do mal e do mundo nada podem contra ela: Jesus Cristo é o mesmo ontem hoje e por toda a eternidade (Hb 13,8). Se ficarmos aos pés da Cruz com Maria, as outras mulheres e o discípulo amado, estaremos protegidos do poder das trevas. Nossa vida está fincada na Rocha que é Cristo.

      Que nesta Páscoa o Espírito Santo nos ajude a levarmos a Cruz de Cristo como discípulos, dando testemunho com nossa vida. E juntos com Jesus possamos também nós levar a nossa cruz – os pecados, traumas, doenças, traição, rejeição, violência, abandono, solidão, morte... A Cruz de Cristo nos leva ao céu. E nós levamos nossa cruz ao céu, pois somos salvos com nossa história de vida. Assim, unimos nossa passagem por este mundo à Páscoa do Senhor.

“Teu sangue nos lava
 Teu fogo nos queima
 O Espírito Santo inunda meu ser”.

Feliz Páscoa!!!

sexta-feira, 18 de março de 2016

MISERICÓRDIA E SACRIFÍCIO

    Tem piedade de mim, ó Deus, segundo a tua misericórdia; segundo a tua grande clemência, apaga minhas transgressões (Sl 50(51),3).

Para ajudar sua meditação pegue sua Bíblia e leia o salmo 50(51).

      Quando falamos de conversão é comum usar a imagem de uma escada ou de um caminho que vai da escuridão para a luz. Este salmo faz esse caminho ou sobe essa escada e nos ajuda a fazer o mesmo. É a passagem do pecado para a graça.

      Ele começa num reconhecimento de que somos salvos pela misericórdia de Deus, que por nós mesmos não podemos nos libertar do jugo do pecado. Nos versículos 3-11 descreve o reino do pecado, e o sofrimento do ser humano escravo do pecado. O salmista tem consciência de que está imerso no pecado como todo ser humano: Eis que nasci culpado, e pecador minha mãe me concebeu. E o pecado, que faz parte da natureza humana, me leva a praticar atos maus como ele reconhece: Pequei contra ti... pratiquei o mal diante de teus olhos. 

     Do versículo 12-19 o salmista levanta os olhos para Deus, que ele reconhece como o único capaz de libertá-lo da situação de escravidão em que vive. É a passagem para o reino da graça. É nascer de novo, é viver em Cristo. A ação da graça de Deus em nós nos dá um coração santo, puro, um espírito decidido, e nos torna generosos – prontos a anunciar a salvação de Deus. 

     Pela graça e misericórdia vamos subindo a escada, saindo de um ar malcheiroso e poluído para respirar um ar puro e agradável. Ou saímos do caminho escuro para o campo aberto cheio de luz. O mundo novo, a vida nova que Deus cria em nós.

    Este é o sacrifício agradável à Deus: a passagem do reino do pecado para o reino da graça (v. 19). E este é um autentico sacrifício. Deixar nossos hábitos, condicionamentos, ilusões e o apego ao pecado, e permitir que o Espírito Santo nos torne novas criaturas é o maior sacrifício que uma pessoa pode fazer. Na verdade eu vos digo: se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará só; mas se morrer produzirá muito fruto (Jo 12,24). Morrer com Cristo e ressuscitar para uma vida nova. Permitir que o Senhor, pouco a pouco, vá restaurando em nós a imagem e semelhança de Deus que perdemos pelo pecado. Esse é o sonho de Deus para todo ser humano. E na sua misericórdia ele não se cansa de perdoar, de nos buscar, curar e salvar. Ele quer nos dar vida e vida em abundancia.

O salmo termina com a manifestação da gratidão de quem viu que seus pés foram soltos do laço (20-21). O pecado de Adão e Eva nos tornou escravos, mas Jesus Cristo desatou o nó do pecado que nos prendia. Vivendo nossa vida e morrendo nossa morte. Ressuscitou e nos ressuscita com Ele para uma vida nova.

      Senhor, que venha a nós o teu reino. Reino da graça, misericórdia, paz e alegria, no Espírito Santo. Dá-nos coragem para passar do reino do pecado para o reino da graça. Ó vinde Espírito Santo, conduze-nos nos caminhos desta vida rumo ao céu, onde Cristo será tudo em todos. Seremos transformados em Cristo, o primogênito de uma multidão de irmãos, para a glória de Deus Pai. Amém

domingo, 6 de março de 2016

ETERNA É A SUA MISERICÓRDIA

Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso (Lc 6,36)
Como Deus é misericordioso?
    O nome de Deus é o Misericordioso. Ele ama com o um amor visceral, comparado ao amor da mãe que embala o filho, que caiu ou levou um susto, junto ao seu rosto – é um amor maternal multiplicado até o infinito. O coração de Deus transborda de ternura para com você, e os diferentes amores que experimentamos na vida (materno, paterno, fraterno, conjugal ou amizade) são um pálido reflexo do amor total de Deus.

Em Jesus se manifestou plenamente a misericórdia de Deus: "Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai" (Papa Francisco).

    Deus é aquele que te vê, mas o seu olhar é amor e traduz sua infinita misericórdia. Vê sua bondade, seus dons e talentos e te convida a crescer. Vê o mal que existe em você, vê o seu pecado e te oferece o perdão que te salva. Não te acusa, mas te defende e protege. Ele é o abrigo mais seguro. 
    “Deus se apaixonou por esta miséria, justamente por essa pequenez. E este amor “se vê”, é um amor terno, como o de um pai ou de uma mãe. E o Senhor diz: ‘não tenha medo, pequenino, não tenha medo. Eu lhe darei força. Dê-me tudo e Eu o perdoarei, lhe darei paz’”. (Papa Francisco).
   Então, deseje que Ele te olhe até as profundezas mais secretas do teu ser. Entre você e Deus existe uma relação que nada pode destruir: Sou o teu Deus, tu és o meu filho. Filhos no Filho, Jesus Cristo.  A misericórdia de Deus mostra o pecador a si mesmo, o coloca face a face com a verdade, sem medo e sem raiva, porque em Cristo é possível a reconciliação.

    Para isso a misericórdia de Deus precisa mudar o que está gravado no consciente e no inconsciente. A misericórdia de Deus não só perdoa a culpa, mas revoga a sentença de morte escrita em nossa vida: Pois o salário do pecado é a morte... (Rm 6,23). Deus compreende misericordiosamente o pecador, no mais profundo do ser e o vê através do sacrifício do Filho, de modo que a mais íntima realidade do pecador não é o pecado, mas ser filho. A restauração do ser humano criado à imagem e semelhança de Deus e desfigurado pelo pecado, deve ser vista à luz da misericórdia de Jesus Cristo que “me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20).

Como vivemos a misericórdia?

 Ide e aprendei o que significam as palavras: Quero misericórdia e não sacrifícios. Porque não vim chamar os justos, mas os pecadores (Mt 9,13).

Qual é a exigência para que uma pessoa receba a misericórdia de Deus?
Reconhecer-se pecador, pedir perdão e converter-se. Reconhecer que somos todos devedores e que o débito é impagável.

  Para sermos misericordiosos precisamos receber misericórdia. Receber e dar misericórdia é permitir que o Espírito Santo forme em nós o rosto de Cristo, o rosto da misericórdia do Pai. “A Igreja é a comunidade daqueles que, em união, experimentam com gratidão a misericórdia de Deus” (D. Bernardo Bonowitz).

 Qual a dificuldade que encontramos?
Às vezes ficamos apegados ao nosso pecado. Queremos vencer pelas nossas forças. Isso só nos leva à frustração. A libertação está em encontrar primeiramente, não a si mesmo, mas a salvação em Cristo. Esse encontrar é a descoberta, na graça e na fé, de que somos misericordiosamente amados e compreendidos, e pelo Espírito Santo somos capacitados a compreender os outros com misericórdia e compaixão.

“A misericórdia cura tudo”. Cura as feridas da alma, do corpo e do espírito. Cura a sociedade e a história. “É a única força que realmente pode curar e salvar... A misericórdia cura a raiz da vida, curando o desespero que projeta seu próprio mal no outro como uma exigência e uma acusação.” (Thomas Merton).

     Senhor nosso Deus, fornalha ardente de amor e misericórdia. Fogo que queima sem consumir. Perdoa os meus pecados e minhas rebeldias. Que eles sejam como gravetos que alimentam a chama da vossa compaixão e misericórdia.  Cura as feridas da minha vida. Vem Espírito Santo, formar em mim o rosto de Jesus Cristo, o rosto da misericórdia do Pai. Amém.