Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro,
Tiago e João, seu irmão, e os levou a sós para um monte alto e afastado. E
transfigurou-se diante deles. Seu rosto brilhou como o sol e as roupas se
tornaram brancas como a luz... (Mt 17,1-8).
A transfiguração de Jesus é um mistério
(algo que não compreendemos completamente). Não é algo que Jesus faz, é algo
que se realiza nele. É a revelação de quem Ele é: o Filho de Deus. E mostra o
que viremos a ser: a esperança da glória futura, que já acontece, está
escondida em nós.
Mostra a realização do passado (Lei e
profetas). Antecipa o futuro, como fala o profeta Isaias: Eis que faço uma coisa nova! Já está despontando, não o percebeis?
(Is 43,19). O que é a coisa nova? O amor do Pai, a salvação em Jesus, o dom do
Espírito Santo, a segunda vinda de Jesus, o esplendor dos santos, a glória a
que somos predestinados (cf. Ef 1,5-6).
Jesus Cristo é o centro do tempo e do universo, une o céu e a terra. Na transfiguração vemos a glorificação de Cristo e a
nossa: quando contemplamos nos transfiguramos. Mais ainda, o universo é
transfigurado. Contemplando Jesus Cristo refletimos a glória divina e somos
transformados na imagem que contemplamos (cf. 2Cor 3,18). Quer dizer: ter a
mente, os pensamentos, os sentimentos, a visão de Jesus.
Vamos subir o Monte Santo (2Pd 1,16-18). Entrar
na nuvem luminosa: o Espírito Santo. Deixe que o Senhor me tome pela mão, na
solidão, no silêncio da noite... Distanciar-me, subir o monte. Jesus não se
transfigura em meio a multidão.
Do que você precisa sair, se
distanciar?
Enquanto Jesus rezava a luz provém do seu
interior... até suas vestes se tornaram de luz: Deus é luz, nele não há trevas (1Jo 1,5). Jesus brilha com luz
própria, mostrou algo de sua divindade. No monte, Jesus revela a Pedro, Tiago e
João, um momento íntimo de oração entre Ele e o Pai. A transfiguração é um
mistério da felicidade divina. Os discípulos se tornaram participantes; nós
somos participantes.
Deslumbrado Pedro diz: “Senhor, como é bom estarmos aqui!” - retornou
a beleza perdida com o pecado, beleza desvirtuada em nossos dias. “Se quiseres, levantarei três tendas: uma
para ti, uma para Moisés, uma para Elias”. Pedro não sabia o que dizia. Por
que? Porque Jesus não é igual a Moisés ou Elias, outro profeta. Jesus é Deus. Depois ele não precisava fazer tendas. A
tenda estava feita! Deus fez uma tenda: a nuvem, o Espírito Santo, sinal
visível, os envolve. E do meio da nuvem, da tenda, se ouve uma voz: “Este é o meu Filho amado, escutai-o”.
Completou-se a revelação. Deus não precisava falar mais nada (cf.Hb 1,1-2).
E, de repente, tudo voltou
ao normal... viram só Jesus com eles. E Jesus lhes disse: “Levantai-vos e não tenhais medo”. Jesus caminha conosco. Não
precisamos ter medo. Nele encontramos o Pai e o Espírito Santo.
Amados irmãos, o reino está dentro de
nós! Vamos subir o monte interior... entrar
na tenda armada por Deus – com Jesus, o Pai e o Espírito Santo. Saborear a
doçura e beleza de Deus. Deixe que os
projetos, as preocupações, o medo, a ansiedade, a tristeza... voem para longe,
e aconteça em nosso coração uma profunda paz. Paz que é dom do Ressuscitado. Contemplar a transfiguração é uma cura
para o stress e nos torna portadores da paz no mundo em guerra. Este é o sinal
visível da espiritualidade da transfiguração: a paz. A primeira cura é a paz no coração. Deus nos cura pela paz. Ele é a nossa paz.
Senhor, toma-me pela mão e conduze-me ao monte alto
e afastado do meu ser profundo.
Leva-me contigo ao sacrário da minha alma, onde
sou eu mesma e onde posso experimentar a beleza, a bondade e o poder de Deus.
Leva-me ao
lugar dentro de mim que é o seu templo.
Onde sou sã.
Onde o mar revolto da
agitação do mundo não tem poder, porque neste lugar o Senhor reina e
dá a sua paz.
Todos nós, de face descoberta, refletimos a glória do Senhor
como um espelho, e somos transformados nesta mesma imagem, sempre mais
gloriosa, pela ação do Senhor, que é Espírito (2Cor 3,18).
Inspirado no livro O MISTÉRIO DA
TRANSFIGURAÇÃO – Raniero Cantalamessa – Ed. Loyola