Podemos perceber dentro de nós duas
forças contrárias. Uma é o desejo de fazer a vontade de Deus, de seguir Jesus
com mais entusiasmo, de amar mais o próximo. Esta força foi gravada por Deus,
no mais intimo do nosso ser, ao nos criar. Mas podemos perceber também a
rebeldia, o desejo de controle, a arrogância, soberba, orgulho, egoísmo, e medo
de fazer a vontade de Deus.
Pela graça do batismo somos atraídos
para Deus, fonte de todo bem. O desejo de fazer a vontade de Deus gera vida e
consolação do Espírito Santo, mesmo quando passamos por tribulações na vida. A
rebeldia, ao contrario, gera a morte, a tristeza, o medo, a frustração e
reclamação. O desejo de me entregar ao Senhor vem do Espírito Santo; a rebeldia
vem do Maligno, é fruto do pecado, do orgulho da carne. A rebeldia vem do amor
próprio desordenado, fruto do orgulho, do desejo de dominar a vida, de ser como
Deus.
A mulher notou que era tentador comer da
árvore, pois era atraente aos olhos e desejável para alcançar inteligência.
Colheu o fruto, comeu e deu também ao marido, que estava junto, e ele comeu (Gn
3,6).
Este versículo da Bíblia revela a
tragédia da humanidade: a rebeldia e desobediência ao Criador. O Maligno
apresentou a Adão e Eva a tentação do orgulho, e eles caíram perdendo a graça
da amizade com Deus. O orgulho, o amor próprio desordenado, entrou pelos olhos
(o fruto era atraente), dominou a inteligência (razão, pensamentos e
sentimentos), e se tornou ação (colheu o fruto e comeu). Seus olhos se abriram,
e viram, não a grandeza que esperavam, mas a pequenez do ser humano (estavam
nus). Pois nossa grandeza vem de Deus, e quando nos afastamos dele só nos resta
a miséria, o fracasso como pessoa. Por isso S. João nos exorta em sua primeira
carta:
Não ameis o mundo nem o que há no mundo.
Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo
– os maus desejos da carne, a cobiça dos olhos e o orgulho da riqueza – não vem
do Pai, mas do mundo. Ora, o mundo passa junto com sua cobiça, mas quem faz a
vontade de Deus permanece para sempre.
(1Jo 2,15-17).
(1Jo 2,15-17).
O remédio para a ferida do pecado é a
graça. O tratamento é vigiar sobre o amor próprio desordenado. Vigiamos
reconhecendo que a raiz do pecado está em nós, e se tentarmos arrancá-la por
nossas próprias forças ela brotará em outro lugar ainda mais forte. Mas Deus
não nos criou para o pecado e a infelicidade. Deus nos criou para a vida, o
amor e a santidade. O Espírito Santo é quem nos faz sair do reino do pecado e
nos dá a vida da graça. É Ele quem nos torna dócil à vontade de Deus.
Então, o que posso fazer? Reconhecer
que o pecado mora em mim (cf. Rm 7,14-25), e nas áreas onde sei que ele me
domina, mudar as ações de orgulho para a mansidão. Combatemos o amor próprio
desordenado pela mansidão e humildade. Mansidão e humildade é o jeito de ser de
Jesus (Mt 11,29).
Nossa vida é transformada quando abrimos
o coração para o Espírito Santo, dom de Deus. É Ele quem nos configura com
Cristo e nos dá a alegria de sermos filhos do Pai. Ouçamos a voz do Espírito
que nos exorta a obediência da fé.
O amor próprio desordenado nos leva a
incredulidade, pois quando me deixo dominar pelo orgulho eu creio em mim mesma
e não em Deus. “Não me submeterei!” Este é o pecado de Lúcifer, que pela
desobediência, de anjo de luz se tornou anjo das trevas, o Maligno.
Para quebrar o orgulho não precisamos
procurar muito, basta nos submetermos as situações humilhantes que a vida nos
traz. Em tudo preciso discernimento, que é dom do Espírito Santo. Ele afina
nossos olhos e ouvidos para perceber onde está a vontade de Deus.
Senhor Jesus, lava-me com o teu sangue.
Aos pés de vossa cruz me refugio. Renova a graça do meu batismo. Dá-me o
Espírito Santo. Eu renuncio a satanás e as suas obras. Renuncio ao orgulho e a
desobediência a Deus. Maria, mãe da divina graça, ajuda-me a obedecer ao
Senhor. Desperta meus ouvidos para escutar sua exortação: “Fazei tudo o que ele
vos disser”. Amém.