E o deserto florescerá!

E o deserto florescerá!

terça-feira, 10 de maio de 2011

DESTE-ME UM CORPO

        “Eis porque, ao entrar no mundo, Cristo diz: Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas preparaste-me um corpo. Não te agradam holocaustos nem sacrifícios pelo pecado. Então eu disse: eis-me aqui, ó Deus, venho para fazer a tua vontade – no volume do Livro está escrito de mim”  (Hb 10,5-7).
       Antes mesmo de nos dar a vida Deus pensou em cada um de nós com amor, sonhou a nosso respeito. Quando fomos gerados no ventre materno Ele nos deu um corpo através do qual podemos agir e nos relacionar, sobretudo para fazer a vontade dele. Ao sermos criados saimos da nuvem gloriosa da presença de Deus para viver neste mundo. A nuvem gloriosa, a presença do Senhor continua a nos envolver, mas é invisível aos nossos olhos, só a percebemos pela fé que o próprio Senhor nos dá para que possamos nos relacionar com Ele. Temos amor pelo nosso corpo, por isto “não queremos ser despidos mas sim revestidos de uma veste nova sobre a outra” (2Cor 5, 4).
        Durante a nossa vida vamos nos apegando a muitas coisas – coisas boas que o Senhor nos providenciou para nosso bem - e o primeiro apego é pelo corpo. Mas o nosso erro é querer tornar definitivo, nos apegarmos, ao que passa. Com o apego vem  o medo de perder o objeto amado e por isto nós sofremos, sem percebermos que toda nossa vida é um exercício de desapego.
        Começamos nos desapegando da infância com suas brincadeiras e descobertas; depois nos despedimos da adolescência tempo em que começamos a descobrir e formar a identidade; depois precisamos nos desprender da juventude quando começamos a realizar nossos projetos; em seguida vem a idade adulta, tempo de realizações, mas também um tempo de fazer um balanço da vida, ver o que valeu e o que não valeu a pena, tempo de corrigir a rota, e se for necessário mudar o rumo; chegamos por fim a velhice que pode ser um tempo de integridade se bem contarmos nossos dias ou tempo de desespero se percebermos que erramos o alvo, quer dizer, se não realizamos o sonho de Deus para nós.
       Por fim, o último bem do qual precisamos nos desapegar é o nosso corpo. E só nos desapegando dele é que podemos nos entregar inteiramente nas mãos amorosas do Pai e voltar definitivamente para a nuvem gloriosa da presença de Deus, “preferindo deixar este corpo para morar junto do Senhor” (2Cor 5,8). O importante é procurarmos realizar o sonho de Deus a nosso respeito, saboreando a vida e usando as coisas que passam sem apego.
ORAÇÃO DE ABANDONO
Meu Pai, eu me abandono em vós. Fazei de mim o que quizerdes. Por tudo que fizerdes de mim, eu vos agradeço. Estou disposto a tudo, aceito tudo, contanto que vossa vontade se cumpra em mim e em todas as vossas criaturas; nada mais desejo, meu Deus. Ponho minha alma em vossas mãos, eu vo-la entrego, meu Deus, com todo ardor do meu coração, porque vos amo, e para mim é uma necessidade de amor dar-me, entregar-me em vossas mãos sem medida, com infinita confiança, porque vós sois meu Pai.
Charles de Foucauld

Nenhum comentário:

Postar um comentário