“Seis dias depois, Jesus tomou consigo
Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a sós para um monte alto e
afastado” (Mt 17,1).
Na esperiência do povo da Bíblia sempre há o
convite de Deus para subir um monte. Assim foi com Abraão no monte Moriá;
Moisés no Sinai; Elias no Carmelo e Horeb, etc. Jesus gostava de se retirar
para um monte para orar e convidou seus discípulos mais próximos para subir com
Ele o monte Tabor como testemunhas de sua transfiguração.
Quando visitei a casa onde nasceu João Paulo
II ficou em minha lembrança uma foto dele ainda jovem, de costas, olhando para
os montes. Me lembro também do monte Assos, na Turquia por onde Paulo passou
esperando os companheiros (At 20,13) – para mim foi um momento de graça
conseguir subir o monte e lá de cima, contemplando o mar Mediterrâneo, pensar na
espera de Paulo e nas esperas da nossa vida. Me recordo ainda de que gostava de
subir os montes na fazenda onde cresci e lá do alto ver mais longe. E há ainda o
monte místico de S. João da Cruz... O convite a subir o monte é sempre um
convite ao desapego, a deixar coisas para se aproximar mais de Deus.
O monte simboliza também nossa vida –
quanto mais tempo vivemos mais alto se torna o nosso monte, cada ano que passa
subimos mais um pouco na liturgia da vida. E ao subir o monte da vida preciso
escolher o que levar e o que deixar pelo caminho. Algumas coisas que deixamos
nos dá alívio como quando caminhamos carregando sacolas pesadas e podemos
afinal deixá-las. Outras coisas que precisamos deixar faz doer o coração, não
queriamos deixá-las, mas não tem jeito, para subir o monte não podemos levar
sacolas pesadas. Ninguém consegue subir um monte carregando pesos.
O
monte nos transmite firmeza, segurança, e nos convida a “buscar as coisas do
alto” (Cl 3,2). E nunca subimos sós. Ao subirmos o monte da vida sempre podemos
contar com o auxílio precioso dos irmãos e amigos. E se subimos um monte há as
flores do campo, os passarinhos – me lembro uma vez quando descia do monte
Sinai e um bando de passarinhos me acompanhou por um bom tempo, provavelmente
esperando receber comida. Se me uno à natureza posso sentir o respiro da terra
e da vida em mim. Do sopro de Deus em mim e em toda sua criação. Faço a
experiência de que faço parte do universo.
Ao
criar o ser humano Deus o fez à sua imagem e semelhança colocando em nós a
semente do divino. Assim, todo o
universo, criação de Deus, está contido no ser humano imagem e semelhança de
Deus. O pecado causou a ruptura dessa ordem e beleza que é a essência do ser
humano. Nos afastando da nossa essência passamos a pensar que somos apenas
animais racionais, quando Deus nos fez “pouco menos do que os anjos” (Sl 8,6).
Mas, nos alegremos irmãos! Em Jesus Cristo, Deus se reconciliou com os homens,
nos fez filhos (Rm 8 15), e quer restaurar em nós sua imagem e semelhança.
Convido
você a orar com o Salmo 80(79) pedindo restauração.
“Restaura-nos, Senhor Deus Todo-poderoso: faze
brilhar tua face e seremos salvos” (Sl 80(79), 20).
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