Só podemos falar do que vimos e ouvimos.
Por isto o que escrevo neste blog é um pouco da minha experiência espiritual.
Não tenho nenhum propósito, a não ser levar um pouco da ternura e amor de Deus a
quem porventura ler. Dar de graça o que recebi de graça. Hoje vou partilhar sobre algo que é constante em minha vida: o desejo de Deus.
Ò Deus, tu és o meu Deus, procuro estar na
tua presença. Todo o meu ser deseja estar contigo, eu tenho sede de ti como uma
terra cansada, seca e sem água. (Sl 63,2).
Criado por Deus e para Deus, o ser humano
traz em si uma centelha do infinito. Deseja a perfeição, deseja ser completo,
mas sabe e sente que algo lhe falta. Seguimos pela vida buscando sempre este
algo, e muitas vezes buscamos em lugares e coisas enganosas, o que só nos fará sentir mais vazios. A perfeição e completude que desejamos só a podemos
alcançar em Deus. Geralmente eu a experimento na missa e na oração pessoal, mas às vezes o Senhor me surpreende andando pela rua ou em qualquer
momento do dia.
Amados, mesmo sem ter
consciência todo nosso ser clama ao Pai.
Pai que nos amou a ponto de
entregar o seu Filho. Pai, que nos procura na brisa da tarde, em meio ao
jardim. Pai, que nos chama com sua voz suave, a voz do Espírito de Amor: “Vem”.
Levanta-te, minha querida, minha formosa,
e vem! (Ct 2,13).
Mas muitas vezes resistimos a esse
chamado. Muitas vezes nos deixamos abater e sufocar pelos apelos do mundo, e
pela voz da nossa alma ferida pelo pecado e sofrimentos, que diz: você não é merecedora
desse amor. Mas o Senhor não se cansa de nos buscar: A voz do Amado continua a
nos chamar... “Ah, se ouvisses hoje a minha voz, a voz do meu amor... Eu
saciaria sua sede e fome. Eu te levaria a voar nas alturas, nas asas do meu
Espírito. E te daria o que o seu coração deseja”.
Peregrinos neste mundo,
seguimos desejando ouvir a voz do Amor. Vivendo entre o apelo do meu coração que deseja ser de Deus e a dificuldade de me entregar totalmente.
Entregar-nos totalmente
implica em aceitar a solidão do chamado, pois o que Deus faz em nosso ser
profundo fica entre Ele e nós. Aceitar o cajado do pastor. Li em algum lugar
que o pastor caminhando junto com o rebanho, de vez em quando escolhe uma
ovelha e põe o cajado sobre ela. O cajado é um vínculo com o pastor, mas é
também um peso, pois a ovelha suporta o incomodo de caminhar com o cajado do
pastor sobre si. Não obstante o peso é uma alegria. A alegria que vem do
vínculo, a escolha, a ligadura com o pastor.
Este caminho solitário é um
caminho de santificação. Ver o que a maioria não vê, sentir o que a maioria não
sente. Ter por companhia apenas o Pastor das ovelhas. Não ter como fugir, pois
a escolha não foi nossa. Dizer como o salmista: Para onde ir, longe do teu sopro? Para onde fugir, longe da tua
presença? (Sl 139,7). Apenas prosseguir na obediência da fé. Esperando ser
fiel ao chamado apesar da fraqueza e pecados. Esperando que Cristo seja tudo em
todos:
Eu
neles e tu em mim... (Jo 17,23).
Ó meu
Amado! Meu coração arde de desejo de possuir-te inteiramente. Mas caminho na
nuvem do claro/escuro, do não saber, do não ser... Pois, possuir-te
inteiramente só é possível no céu. Enquanto isso, caminho na esperança de estar
cada dia mais perto de Vós. E que, por um mistério do seu amor e misericórdia,
o Senhor me possua inteiramente. Pois, mesmo eu sendo infiel o Senhor permanece
fiel. Assim seja. Amém.
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