E o deserto florescerá!

E o deserto florescerá!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

REFLEXÕES DE FIM DE ANO

    Tempo do Advento. Para a Igreja já é ano novo. Para o mundo cívil é final do ano. Tempo de vigilância, preparação e espera. No advento recordamos o nascimento de Jesus – sua primeira vinda – e nos preparamos para sua segunda vinda. Gosto da imagem da liturgia que mostra que não repetimos os anos. A cada ano damos uma volta no monte, até chegarmos ao topo, na vinda do Senhor. Ele nos encontrará celebrando e esperando. Vem Senhor Jesus.

     Neste tempo nos deparamos com a realidade de que tudo passa, este mundo é impermanente, e isto muitas vezes nos causa mal estar e tristeza. Com a proximidade do fim do ano somos levados a pensar na vida que vivemos, a refletir...
Como tenho vivido? Que mudanças foram significativas para mim? O que preciso deixar para continuar o caminho para uma vida mais plena? O que preciso tomar e abraçar? Por que aconteceu isto ou aquilo comigo, com minha família, com o meu país, com o mundo?. 

    Recordo também as pessoas que passaram pela minha vida... Os meus queridos que morreram... As pessoas que deixei... As pessoas que me deixaram... Pessoas pelas quais eu sentia um amor apegado, infantil, e se foram deixando um vazio no lugar... Pessoas que eu não queria deixar, mas precisei deixar para o meu bem... Pessoas amadas das quais a vida nos afastou, tomou outro rumo em uma de suas voltas e reviravoltas, mas não estão longe do coração e se as reencontrarmos será como se nos tivéssemos separado ontem. Pessoas que retornam para a nossa vida trazidas pela mão do Senhor... Pessoas... Coisas... Tudo o que foi importante para nós, e não é mais...

      Só quando temos coragem de descermos aos subterrâneos do nosso ser e ver a nossa realidade ali onde somos nós mesmos sem disfarces, podemos verdadeiramente mudar de vida, nos converter.

       Nossa fé nos garante que o Senhor Jesus, que entrou na história humana, nascido de uma mulher, Maria de Nazaré (cf.Gl 4,4-6), numa gruta em Belém da Judéia, caminha conosco e nunca nos abandona. Ele é fiel e nos ama. Tudo o que vivemos – acertos, erros, falta de sentido na vida, o que para nós não tem explicação...Todo o mistério da nossa vida está guardado no coração de Jesus. O Senhor tudo sabe, nos perdoa, acolhe como Pai amoroso, nos ama sem censura ou condenação e nos liberta de toda forma de escravidão. Renova nossa alegria e esperança. Infinitamente Deus se alegra porque: “A Palavra se fez carne e habitou entre nós; vimos a sua glória, a glória do Filho único do Pai, cheio de graça e verdade” (Jo 1,14).

       Com Jesus, por Jesus e em Jesus, no amor de Deus Pai e na força do Espírito Santo, podemos dar um rumo novo à nossa vida. O ano que chega ao fim está na misericórdia de Deus. Um novo ano nos é dado como presente, podemos fazer tudo novo.

      Não pretendo dizer que já alcancei a meta e cheguei à perfeição. Mas eu corro por alcançá-la uma vez que também eu fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, consciente de não tê-la conquistado ainda, só procuro uma coisa: esquecendo o que fica para trás, lanço-me em perseguição do que fica para frente. Corro para a meta, para o prêmio celeste, para Deus que nos chama em Jesus Cristo.  Fl 3,12-14

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A SALVAÇÃO EM JESUS

    Quando recordamos um fato alegre ou triste de alguma forma ele se torna presente e nos sentimos alegres ou tristes. Então, convido você a relembrar algo bom que aconteceu com você na sua infância... e deixe essa boa lembrança alegrar seu coração. 

      Se a recordação de um acontecimento da vida tem este efeito sobre nós, muito mais acontece com a Palavra de Deus. Se a lemos ou ouvimos com fé ela torna presente os acontecimentos do passado, e faz acontecer o que ela diz: Assim acontece com a palavra que sai de minha boca: não volta para mim vazia, sem ter realizado a minha vontade, sem ter cumprido sua missão (Is 54,11).

A palavra de Deus que hoje pode mudar a sua vida é esta: At 10,34-44. Pegue a sua Bíblia e leia o texto. Vamos nos deter no versículo 38 para nossa meditação. 

Como Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder. Como ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com ele. (At 10,38).

O que recordamos neste texto da palavra de Deus?
Recordamos o acontecimento mais importante da história humana: Em Jesus de Nazaré Deus assumiu a natureza humana (cf. Jo 1,14). Provavelmente já ouvimos isso muitas vezes, mas às vezes esta verdade só atinge uma área do nosso ser. Entre o anuncio e nossos ouvidos estão a dureza de coração, as preocupações da vida, o domínio das emoções, e a Palavra só atinge a superfície do nosso ser.

   Se atingir só a razão queremos ter muito conhecimento para entender Deus, ou queremos algo palpável como prova da existência e ação do Senhor. Se atingir só as emoções  queremos experimentar sensações emocionais como prova de que Deus está agindo, e não nos deixamos atingir nas profundezas do nosso ser, em nosso espírito, e por isto não nos convertemos e não seremos curados (cf. Mt 13,14-15).

Qual é a verdade que precisa nos atingir hoje?
É esta: o Pai, no seu imenso amor, ao nos ver perdidos como ovelhas sem pastor enviou o seu Filho. A salvação foi uma ação trinitária: o Pai envia o Filho no poder do Espírito Santo, e a Jesus foi dado todo poder: 
Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criatura; porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: tronos domínios, principados, autoridades; tudo foi criado por ele e para ele (Gl 1,15-16).

  Como Jesus nos salvou? Por sua encarnação, vida, paixão, morte, ressurreição, glorificação e pelo dom do Espírito Santo. 
De que Ele nos salvou? Do Maligno e do pecado que leva à morte. A ruptura com Deus pelo pecado nos causou toda espécie de feridas e males. Jesus andou fazendo o bem e curando os oprimidos. A opressão pode ser espiritual que vem do Maligno, ou emocional que vem dos apegos, carências, compulsões e obsessões. Tudo o que nos domina se torna uma opressão.
Foi para a liberdade que Cristo nos libertou! Ficai, portanto, firmes e não vos curveis de novo ao jugo da escravidão (Gl 5,1).

    Eles o mataram pregando numa cruz... Mas Deus o ressuscitou. Jesus está vivo e dá a vida. Apareceu a algumas testemunhas: aos seus discípulos – a quem o acolhe e aceita como Salvador e Senhor. Se somos auto-suficientes ou nos consideramos justos, sem necessidade de salvação, dificilmente Ele se manifestará a nós. Ele nos mandou testemunhar, e o nosso testemunho se torna muito mais eficaz quando vivemos numa comunidade de fé, na Igreja.  

Amados, este mesmo Jesus está no meio de nós. Passa por aqui e toca em cada um, fazendo o bem e dando a cura que você precisa.

Senhor Jesus, mergulha-nos no amor do Pai e derrama sobre nós o Espírito Santo consolador. 
Senhor, enxuga as lagrimas dos nossos olhos, toca e cura nosso corpo, perdoa os nossos pecados, cura as feridas da alma, liberta-nos das opressões. 
Senhor, dá-nos a graça de nos deixar amar por vós, o rosto da misericórdia de Deus, e que na vossa misericórdia sejamos salvos e curados. 
Amém.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

QUEM COMO DEUS?

      Mas agora assim fala o Senhor que te criou ó Jacó, e te formou, ó Israel: Não tenhas medo, pois eu te resgatei, chamei-te pelo nome, tu és meu! Se tiveres de passar pela água, estarei a teu lado, se tiver tiveres de varar rios, eles não te submergirão. Se andares pelo fogo, não serás chamuscado, e as labaredas não te queimarão. Pois eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, teu Salvador. Is 43,1-3

Meditando este texto da Bíblia fico pensando: Quem como Deus?

    As forças do mundo se agitam, o mal traça os seus planos de destruição, o pecado muitas vezes domina nossa frágil humanidade... Mas em meio a um mundo em convulsão que parece não ter saída, a Palavra de Deus vem ao nosso encontro e mostra o Caminho. Um caminho santo por onde podemos passar em segurança, é o caminho do amor de Deus que nos perdoa e salva porque nos ama. O Caminho é Jesus Cristo: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim. Jo 14,6.

Quem como Deus no seu amor? Quem como Deus no seu poder?
Deus não se deixa vencer em seu amor e misericórdia. Ele nos chamou à vida, nos gerou no ventre materno, protegeu a nossa vida de todas as formas, nos livrou de muitos perigos – alguns conhecemos, outros ignoramos.

Eu te resgatei...
      
       Em muitas ocasiões nos metemos em situações que nos aprisionaram e nos tornamos cativos do pecado, presos em vícios que nos dominaram, e nos vimos sem forças para sair, para escapar. Em tal situação o Cristo Redentor veio ao nosso encontro, viu nossa escravidão e nos libertou. Agiu muitas vezes por meio de pessoas, às vezes nem percebemos que era Ele. 

      Mas se prestarmos atenção ouviremos a voz do Senhor que nos diz: os rios não te afogarão, e o fogo não te queimará. E a Palavra se cumprirá. Passaremos e sairemos de situações difíceis na vida sem nos afogar ou queimar. Que palavra consoladora! Se confiamos n’Ele sua palavra acontece. Guarda-nos como a pupila de seus olhos. Ele é nosso socorro em qualquer perigo, e quer ter uma relação de amizade conosco: Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando. Jo 15,14

     A amizade com o Senhor Jesus passa pela entrega confiante em suas mãos amorosas. No reconhecimento de que Ele é nosso Deus, nosso Salvador, e sabe o que é melhor para nós. É nosso amigo, mas sobretudo é nosso Deus, a quem devemos adoração e obediência na fé e no amor. Sem a obediência no amor não podemos ser amigos de Deus.

Chamei-te pelo nome, tu és meu!

    Senhor, eu me alegro e sou grata por teu imenso amor. Obrigada Senhor pelo dom da vida e por cuidar da minha vida. O Senhor me cercou de amor, ternura e misericórdia. Por isto eu me entrego confiante em tuas mãos. Tudo o que sou e tenho de vós recebi. Especialmente o dom maior que é o seu Amor, o Espírito Santo, que quer morar em mim.
Quem como Deus, no amor, perdão e misericórdia?

Diante de tão grande amor só nos resta o silêncio e adoração. Deixar-se amar por Deus. Meu Senhor e meu Deus! 

domingo, 3 de setembro de 2017

DA TRISTEZA À ALEGRIA

     Não entregues tua vida à tristeza nem te atormentes com tuas reflexões. A alegria do coração é a vida da pessoa, e o contentamento multiplica os dias. Distrai-te, consola teu coração: expulsa a tristeza para longe de ti. Pois a tristeza já causou a perdição de muitos e não traz proveito algumEclo 30,21-23

Como crianças, vamos brincar com a imaginação...
Alguém está deitado na cama em um quarto escuro... Uma janela quase inteiramente fechada... De repente um raio de sol entra pela fresta da janela e vem até perto da cama. A poeira presente no ar, banhada pela luz do sol, dança, brinca, como se estivesse muito alegre por aquele raio de sol.  Esta cena penetra na mente da pessoa entristecida deitada na cama e desperta algo dentro dela. Então, ela se levanta e abre a janela. A luz do sol ilumina o quarto escuro, penetra na sua alma, traz brilho aos olhos, colore a face, e a alegria timidamente começa a dançar como a poeira iluminada pelo sol dentro do seu coração...

   Assim o Espírito Santo encontra formas simples e às vezes inesperadas de nos surpreender com a alegria. Se abrirmos um pouco o coração, como aquela fresta da janela, Ele transforma nossa tristeza em alegria. Mas precisamos reconhecer que nem sempre é fácil deixar a alegria e consolação do Espírito Santo iluminar o nosso coração e a nossa mente. Parece que muitas vezes preferimos ficar na tristeza e reclamação, cultivando um espírito abatido.

    Há pessoas que lutam diariamente e às vezes durante toda a vida com um espírito melancólico. Uma depressão latente que está sempre presente. Há dias em que esta melancolia adormece um pouco, outros dias fica mais pesada e se torna mais difícil lidar com ela. Mas esse temperamento melancólico não precisa dominar ou determinar nossa vida. O Espírito Santo quer transformar nossa tristeza em alegria.

   Às vezes ficamos dominados pela tristeza por causa de um acontecimento – uma doença, a morte de alguém querido, uma separação, frustração com as decepções que a vida nos trouxe, os sonhos e desejos que não se realizaram, o cansaço moral por ver crescer a maldade e a violência, a injustiça, o medo do futuro, preocupações exageradas... Tudo isto vai roubando nossa alegria de viver.
        
Passar da tristeza à alegria exige de nós coragem. Coragem de sair de nós mesmos, coragem de deixar a reclamação e a auto-piedade, renunciar ao abatimento e desânimo para dançar a dança da vida, com tudo que ela nos traz. Com risos e dores, perdas e ganhos, vitórias e derrotas. Começar de novo com o nascer de cada dia, dar um sim à vida hoje.       

    O Espírito Santo quer nos libertar, quer fazer nossa alma dançar como os grãos de poeira banhados pelo sol. Vamos cooperar com o Espírito Santo e aceitar o seu convite para a dança da vida. Vida que resiste, brota, ressurge pelo chamado de Deus que nos criou e todo dia nos recria. O Senhor se alegra conosco e nos enche de alegria. A alegria é fruto do Espírito, e brota em nosso coração pela certeza da salvação em Jesus.

E esta é a promessa do Senhor Jesus pra você hoje:
Assim também vós estais tristes agora, mas eu vos verei de novo. Então o vosso coração se alegrará e ninguém poderá tirar-vos a alegria
Jo 16-22

domingo, 6 de agosto de 2017

VIVER NA GRAÇA

     

  
       Mas ele me respondeu: “Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que a força chega à perfeição”. Portanto prefiro orgulhar-me das minhas fraquezas para que habite em mim a força de Cristo
(2Cor 12,9)

   Amados, que consoladora é esta palavra! Por ela percebemos que nada impede a graça de Deus em nós. Basta a graça, pois ela manifesta em nossa fraqueza o poder de Deus.     

       Aceitar e acolher que basta a graça de Deus quebra o orgulho de pensar que o que faço é pelos meus próprios méritos, talentos ou força. Passa também pela aceitação de mim mesma – meu temperamento, minhas fraquezas espirituais, emocionais, morais e físicas, pela aceitação da minha história de vida, pois reconheço que de tudo o que me aconteceu Deus tira um bem maior, se abrimos o coração para sua graça. Reconhecer e aceitar que basta a graça me faz mais humilde e mansa, quebra a arrogância e o egoísmo, pois nada tenho que não tenha recebido de Deus. Enche o coração de gratidão e me faz viver mais o senhorio de Jesus. A Ele todo louvor e toda glória agora e para sempre. Mas depender da graça de Deus é uma batalha que travamos todos os dias, e o coração é o lugar onde se trava a batalha para viver na graça. 

Filhos, vinde e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor (Sl 34,12).

    O temor do Senhor é a união de amor com Jesus Cristo no Espírito Santo. É a experiência de amor de quem faz do Senhor o seu refúgio e vive sob a proteção de Deus. E, por isto, se empenha em tornar presente o bom e o belo no mundo.
      O temor do Senhor é que me faz perseverar na luta, é que me dá forças para continuar orando e vigiando, e a oração é onde o meu ser descansa da luta. Na oração eu estou em Deus e ele está em mim. Ele me enche com o seu amor, com os dons do Espírito Santo, para que eu possa continuar de pé mesmo nos dias mais escuros.

       Senhor, eu renuncio ao desamor, medo, angustia, orgulho, egoísmo, raiva... e a tudo mais que está em mim e pode me afastar de vós. 
Dou o meu sim ao seu amor que supera tudo. 
E na minha pequenez dou o meu sim ao seu chamado, à missão que o Senhor me confia. 
Que a minha fraqueza e os meus pecados não sejam empecilhos para manifestar o seu amor e misericórdia ao mundo.
Vinde Espírito Santo purificar o meu coração com o fogo do amor de Deus. Dá-me a graça de perseverar no seguimento de Jesus, como discípula fiel. 
E depois deste tempo passageiro viver convosco pelos séculos sem fim. Amém.  

sábado, 15 de julho de 2017

O FASCÍNIO DA ILUSÃO

Desvia meus olhos do fascínio da ilusão, faz-me viver em teu caminho!
Sl 119,37
      
     O salmo 119, o maior salmo, fala da alegria de quem vive sob a Lei de Deus. Hoje vamos refletir neste versículo que chama nossa atenção para o perigo do fascínio da ilusão. Realmente, se fizermos uma leitura da nossa vida veremos o quanto já fomos ou somos fascinados pela ilusão. Quantas coisas eram de extremo valor para nós e hoje vemos que na verdade era fogo de palha... Ilusão... nosso coração facilmente se deixa seduzir por ela nos relacionamentos, no projeto de vida e até mesmo na área espiritual. Quantas vezes agimos pensando que estávamos agradando a Deus, mas no fundo buscávamos agradar a nós mesmos ou alguém.    

      Geralmente são as paixões que nos levam no caminho da ilusão e nos afasta do caminho de Jesus. Falamos aqui de todo e qualquer sentimento exacerbado que tem o poder de nos dominar. Desta forma somos dominados pelas paixões e não obedecemos ao Espírito Santo.
“As paixões são componentes naturais do psiquismo humano; constituem o lugar de passagem e garantem a ligação entre a vida sensível e a vida do espírito. Nosso Senhor indica o coração do homem como a fonte donde brota o movimento das paixões (cf.Mc 7,21-23) – Catecismo da Igreja Católica, 1764.
 
       Uma paixão que facilmente nos domina é a raiva - grande mal vem da ira que queima com labaredas de morte. A raiva pode nos levar facilmente ao desejo de vingança, ressentimento, mágoa, medo, ações violentas... e tantas outras paixões que nos queimam por dentro. São como pedras e espinhos que tornam a terra do nosso coração uma terra árida, ressequida, sem vida. Precisamos da ajuda do Espírito Santo para limpar nosso coração da raiva e torná-lo manso e humilde como o coração de Jesus. Um coração livre da raiva é como uma terra regada por uma chuva suave, uma terra fértil onde brota toda espécie de boa semente. Quem possui um coração assim, limpo pelo Espírito Santo, pode repousar junto ao Senhor e descansar na certeza da intimidade com Ele.

        Amados, nada que possamos fazer agrada mais ao Senhor do que a intimidade com Ele. Esta intimidade vem da confiança em sua misericórdia. Vem da certeza que Deus me ama e me perdoa. E todos os meus pecados morrem no coração amoroso de Jesus Cristo. Certeza do amor fiel de Deus que nunca me abandona ou me rejeita, e sempre me amou e protegeu:
Tu me viste quando os meus ossos estavam sendo feitos, quando eu estava sendo formado na barriga da minha mãe, crescendo ali em segredo, tu me viste antes de eu ter nascido (Sl 139,16).

        E mesmo se ao longo da vida as paixões e a dureza de coração nos afastaram do Senhor, fomos amados e protegidos. Ele jamais nos desamparou ou desamparará. Esta intimidade de amor, esta confiança de filhos, é o que mais agrada a Deus. Se não nos afastarmos desta intimidade viveremos em paz e caminharemos seguros em meio aos perigos deste mundo.

Vinde Espírito Santo, libertar-me do fascínio das ilusões. Faz-me olhar a mim mesma, as pessoas e o mundo com esperança e misericórdia. Dá-me a graça de viver em teu colo como uma criança saciada, e que meu coração fique tranqüilo e seguro. Ó vinde, doce hospede da alma, Espírito consolador, derramar o amor do Pai e a alegria da salvação em Jesus, no meu coração.

Glória ao Pai pelo Filho no Espírito. Aquele que é, que era e que vem, pelos séculos dos séculos. Amém.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

CRIADOS, REMIDOS, REGENERADOS

     
     Todos nós, em alguma fase da vida, já nos perguntamos pelo sentido da vida. Para que viemos a este mundo? Qual é o meu destino? Quais as forças desagregadoras do meu ser? O que me torna inteira? E por aí vai...
A vida é um mistério, por mais que queiramos não a dominamos. A vida passa por nós e vai além de nós... Hoje é grande o número de pessoas perdidas e sem rumo, vivendo na superficialidade de uma vida sem sentido. Mas aquele que tem fé busca resposta a estes questionamentos em Deus, autor da vida. E em Deus podemos ver o sentido da vida numa ordem amorosa onde tudo mais é acréscimo. Podemos encontrar esta ordem em três palavras: criados, remidos, regenerados.

      Criar é chamar os seres à vida a partir do nada. Tudo o que o ser humano cria tem um começo anterior, ou seja, cria a partir de alguma coisa existente. Só Deus cria a partir do nada, Ele chama à vida coisas inexistentes – para esta criação o ser humano por mais que pesquise não encontra explicação definitiva. E a ação criadora de Deus é contínua, isto é, mantém a vida criada. A Bíblia afirma que Deus é o criador de tudo. Esta é a nossa fé. Deus é amor e todas as coisas foram criadas por amor. Deus não nos criou para o sofrimento, mas para participarmos da felicidade e amor que existe Nele. Deus criou você por amor. Esta certeza nos cura da rejeição e das feridas do abandono. Seja qual for a situação em que a sua vida começou, você não nasceu por acaso. Deus te desejou e te chamou à vida numa ação criadora através dos seus pais.  Deixe o amor do Pai curar você da rejeição e desamor presente em sua história.

      E a ação criadora de Deus continua na sua vida pela redenção em Jesus Cristo. O demônio, o pecado e a morte dominavam o ser humano. Dominar quer dizer, nos mantinham cativos, presos – não podíamos nos libertar por nossas próprias forças porque a prisão era muito forte. Por sua encarnação, paixão, morte e ressurreição, Jesus Cristo veio resgatar os cativos pelo pecado. Ele é o Redentor. Nenhum cativo pode ser feliz e ter uma vida plena. Libertos do mal podemos viver para Deus – o pecado não reina mais sobre nós: Assim, também vós, considerai-vos mortos para o pecado, porém vivos para Deus em Cristo Jesus. O pecado já não reine em vosso corpo mortal, fazendo-vos obedecer aos seus desejos. (Rm 6,11-12).

       A ação de Deus em nossa vida se completa pela regeneração, a renovação espiritual, pelo dom do Espírito Santo. O Espírito nos anima e vivifica no amor da Santíssima Trindade: Ele nos salvou, não por causa das obras de justiça que tivéssemos praticado, mas por sua misericórdia, mediante o batismo de regeneração e renovação do Espírito Santo (Tt 3,5).
      Pelo batismo recebemos uma vida nova em Cristo, nascemos de novo. Esta vida nova consiste em deixar que Deus troque nosso coração de pedra por um coração de carne: Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo. Removerei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne (Ez 36,26).
     Um coração de pedra é um coração indiferente a Deus e aos outros. O coração de carne é um coração aberto para Deus, um coração que ama, um coração semelhante ao de Jesus. A regeneração é uma obra divina mas espera nossa resposta. A conversão é a resposta humana ao amor de Deus, permitindo que Ele vá completando em nós sua ação salvadora.

       Amados, Deus espera que deixemos os apegos, egoísmo, orgulho, mentiras, ilusões... e nos voltemos para Ele. Que nos deixemos amar e curar pelo Amor. Que abramos o coração para a consolação do Espírito Santo e vivamos na paz e alegria do Senhor Jesus. Uma vida cheia de sentido.

       Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo aquele que nele crer não morra mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele (Jo 3,16-17).



sexta-feira, 2 de junho de 2017

OS POBRES EM ESPÍRITO

Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. (Mt 5,3)

       Neste tempo em que o apego ao dinheiro domina a muitos e é causa de grandes pecados e crimes, somos convidados a refletir sobre os pobres em espírito, pois tudo começa no coração (cf.Mt 15,19). Sem a pobreza do ser humano diante de Deus o dinheiro se torna o nosso deus e o coração se endurece para tudo e todos. Vamos refletir sobre a pobreza do coração tão necessária no mundo de hoje, como já exortava o profeta Sofonias no Antigo Testamento: Deixarei no meio de ti um povo pobre e humilde; eles procurarão refúgio no nome do Senhor: o resto de Israel (Sf 3,12). Os pobres e humildes, os que dependem de Deus, são parte “do resto de Israel” que acolheram Jesus como o Messias e receberam a salvação.

        Jesus, manso e humilde de coração, é a encarnação perfeita do pobre. Nas bem-aventuranças Jesus ensina aos seus discípulos - os que estão abertos e dispostos para os bens espirituais - um modo de vida que pode dar a eles a paz do coração e alegria de viver (Mt 5,2-12). Jesus falou do seu modo de vida, de como precisamos viver para ser feliz.
  
         Segundo o ensinamento de Jesus, pobre é aquele que não confia em suas próprias forças, suas riquezas ou nos poderes humanos, mas confia e depende unicamente de Deus. É ativo, trabalha, dá o melhor de si, mas sabe que sua vida, sua família, seus bens e todas as suas necessidades, estão nas mãos do Senhor e Ele tudo providenciará a seu favor. Como fala S. Paulo: Nós sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8,28).

      Como exemplo de pobres em espírito a Bíblia nos apresenta aqueles que acolheram Jesus: Maria e José, Zacarias e Isabel, os pastores, os magos, Simeão e Ana. Entre estes se destaca a Virgem Maria, que foi totalmente aberta para a vontade de Deus e gerou em seu ventre o Salvador (Lc 1,38).

       Maria e José eram pessoas simples que não tinham muitos bens e poder neste mundo. Dependiam de Deus, eram os pobres de Javé. E receberam a maior missão deste mundo: cuidar do Filho de Deus, Jesus. Maria e José viveram para essa missão. Atentos ao que o Senhor lhes falava, prontos a seguir a direção de Deus. Dóceis à sua condução.  Juntos formaram a Sagrada Família, uma família voltada para o centro: Jesus. E porque eram pobres de coração acolheram o Messias Salvador. Viveram para Jesus, e como não tinham poder para fazer isso por eles mesmos estavam atentos a condução de Deus. A vida que a Sagrada Família vivia está descrita nas bem-aventuranças.

    O ser humano hoje busca a riqueza, o poder e o prazer acima de tudo. Saiu do seu centro e está cada vez mais, infeliz e doente. Precisamos voltar à nossa essência e buscar viver como Jesus nos orienta:
Buscai, pois, em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas de acréscimo (Mt 6,33).


Senhor Jesus, dá-nos a graça de ordenar a nossa vida segundo a vossa vontade. A graça de ser manso e humilde como o Senhor. De ter um coração semelhante ao teu. A graça de voltar à essência, ao que realmente importa. A graça de retirar o supérfluo e deixar de acumular. Renunciar ao acumulo de bens, riqueza, poder, raiva, mágoa, ressentimento... e tudo mais que envenena nossa vida. Ensina-nos a ser feliz, a bem aventurar a vida. Amém.

domingo, 21 de maio de 2017

O SANTUÁRIO INTERIOR

       Se alguém me ama, guarda minha palavra; meu Pai o amará, viremos a ele e nele faremos morada (Jo 14,23).

       Amados, que consoladora é esta palavra de Jesus! Ele nos dá a certeza de que Deus não só caminha conosco, mas mora dentro de nós, numa intima comunhão de amor. Comunhão de amor como nunca teremos com nenhum ser humano. Onde Deus habita é um santuário de amor. Assim o nosso coração se torna um santuário onde recebemos toda graça, onde flui o amor sobre nós e através de nós para o nosso próximo.
  
   Há dentro de nós um templo que não foi construído por mão humana, é um templo espiritual onde posso habitar em segurança. E de onde saio para estar no mundo e coloco o mundo na presença do Senhor. Um lugar onde somos plenamente amados e curados da rejeição, do abandono, da solidão, do pecado... Um lugar onde céus e terra se tocam na presença do Senhor que vem governar o mundo com misericórdia e justiça. Por Cristo e em Cristo entramos no santuário verdadeiro, já neste mundo, como primícias.
Pois Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, figura do verdadeiro, mas no próprio céu, para comparecer agora diante de Deus em nosso favor (Hb 9,24).

     Amados, o que é esta vida comparada com a vida no céu? A vida é boa e bela e gostamos da vida, mas em comparação com o que será nossa vida no céu, a vida como a conhecemos não passa de uma pálida figura. Assim também acontece com a experiência de Deus que vivemos hoje - é tão bom e enche a nossa vida de força e alegria. Mas o que é esta alegria comparada com a alegria de ver a Deus face a face? Poder dizer: tudo está consumado! Fiz o melhor que pude. E ouvir de Deus:
Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, eu te confiarei muito; vem alegrar-te com teu Senhor (Mt 25,21).
    Mas porque não vivemos assim? Porque nos deixamos dominar pelas vãs preocupações que nos perturbam e roubam nossa paz?
Muitas vezes a divisão começa dentro de mim: estou dividida entre o que sou e quem gostaria de ser. Esta divisão vem do orgulho que não me deixa aceitar quem sou: um ser inacabado, em constante transformação, dependente da misericórdia de Deus. O Senhor Jesus quer me tornar quem sou realmente, na humildade do meu ser e da minha vida. Possuir, pela mansidão, a terra do meu coração, para entrar no lugar de repouso. Quando minhas ações - aquilo que eu podia fazer - se esgotam, apenas fico quieta, aceitando o desconforto e a dor... e deixo que, no silêncio, o Amor cuide de mim.

No silêncio podemos ouvir Jesus nos falar:
Levanta-te para a vida e para o amor. Eu restauro tua dignidade e renovo a graça de ser filha, filho de Deus. Eu te levanto diante do meu rosto e digo quem você é: Você é a amada. Você é o amado. Eu te curo e restituo o que o mal, o mundo e os teus pecados roubaram de você. Eu te aprecio e te amo. Sou o teu Deus.

Meu Senhor e meu Deus! 
À sombra de vossas asas eu habito... Eu quero me aquietar e respirar profundamente, à sombra de vossas asas, meu Deus. Estar em segurança... colocar em tuas mãos amorosas todas as minhas preocupações. Entrar nos átrios do Senhor e habitar no seu templo. Silenciar as muitas vozes dentro de mim... tirar as sandálias e descansar na  presença do Senhor Todo-Poderoso. E neste espaço de repouso, diante de Deus, posso trazer os que me são caros e todas as pessoas por quem oro. Cabe o mundo inteiro com suas dores, pecados e doenças, no Coração de Jesus que nos ama e quer salvar. Com a minha vida cantar ao Senhor um cântico novo.

domingo, 7 de maio de 2017

UM CORAÇÃO TRANQUILO


     Há alguns dias eu conversava com uma amiga e ela me chamava a atenção sobre como as pessoas estão agitadas e barulhentas. E isto é um fato. Por muitos motivos permitimos que o barulho do mundo, da sociedade em que vivemos e da mídia, roubasse a nossa paz. E acabamos vivendo fora de nós mesmos, sentimos que não temos controle sobre nossa vida, nossos pensamentos e sentimentos. Por isto nunca descansamos e sofremos de ansiedade, preocupação exagerada e insônia, e ficamos física e mentalmente doentes. Reconhecemos que entramos num circulo vicioso do qual é difícil sair... Precisamos da ajuda de Deus, do socorro do alto. 
Convido você a orar com este salmo:

Senhor, meu coração não é pretensioso, meus olhos não são arrogantes.
Não ando à procura de grandezas
nem de maravilhas fora do meu alcance. 
Pelo contrário, estou sossegado e tranquilo;
como criança saciada no colo da mãe, 
como criança saciada, minha alma está em mim.
Israel, põe tua esperança no Senhor,
desde agora e para sempre. Sl 131(130).

    É um salmo muito rico e seria impossível esgotar toda sua mensagem...
Mas vejamos... o salmista não fala dos seus problemas, mas eleva os olhos para Deus numa confiança filial. Confiança que vem do relacionamento íntimo com o Senhor. 
Então, amados... O coração tranquilo não vem do fato de tudo estar bem em minha vida e no mundo. O coração tranquilo vem do repouso, da confiança em Deus. 
Confio porque sei que Ele me ama como sou e como estou. Confio porque sei que tudo o que for preciso mudar em minha vida Ele mudará, se eu me deixar conduzir pelo Espírito Santo - e se confio meu coração se abre. 

    Na confiança em Deus sou curada das feridas da desconfiança. As feridas da desconfiança são aquelas que foram causadas pelas decepções, frustrações, abandono, traições, desamor...

    Quando me abandono em Deus Ele religa tudo o que foi rompido em minha vida. E eu posso me aceitar como sou - meu temperamento, minhas dificuldades psíquicas e emocionais, meus defeitos, meus sonhos e desejos...
Deixo de reclamar. Posso ser como a árvore bem regada que dá fruto ao seu tempo (Sl 1,3). Estou em casa - dentro de mim e onde Deus me plantou.

    Assim, o barulho do mundo cessa de perturbar a minha mente - esse barulho muitas vezes procede da curiosidade e do desejo de saber, de forma exagerada, tudo o que se passa no mundo. Más notícias e coisas sobre as quais não tenho nenhum controle só me interessam na medida que intercedo a Deus pelos acontecimentos, para que a sua misericórdia se estenda à todos.

    Mas parece que hoje achamos mais fácil viver na agitação mental, ter nossa vida roubada pela agitação do mundo em convulsão, do que confiar em Deus.
Muitos criam para si um deus que está ao seu serviço, para resolver os seus problemas. Mas Jesus  não prometeu isso. Ele prometeu que ficaria conosco até o fim:

Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo! (Jo 16,33).
Senhor, obrigada por caminhar conosco. 
Dá-nos a luz do Espírito Santo e faça de nós portadores da luz. 
Dá-nos a graça de renunciar ao desejo de controle, as preocupações exageradas e ao barulho do mundo, por amor a vós, meu Senhor e meu Deus. 
Encha o vazio dos nossos corações com a paz, alegria e a força da vossa ressurreição. 
Liberta-nos do mal, da mentira e do medo. 
Assim seja. Amém.


segunda-feira, 27 de março de 2017

EU QUERO MISERICÓRDIA (Mt 9,13)

.   
Jesus é o rosto da misericórdia de Deus, e a misericórdia de Deus se manifesta sobretudo no perdão dos pecados. Ele perdoa porque nos ama. Diante de nós estão dois caminhos: vida e morte, arrependimento ou perdição. Nossa realidade é: Todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus (Rm 3,23). O desejo de Deus é salvar a todos. Por isto Ele nos fala, nos faz um apelo; voltai... convertei-vos... Apelo que vem do coração amoroso do Pai: Volta, Israel, ao Senhor Deus, pois tropeçastes em tua culpa (Os 14,2).
       Todos nós encontramos pedras no caminho da vida e tropeçamos nelas. Às vezes o tropeço nos faz perder o equilíbrio e outras vezes nos joga no chão, de onde é muito difícil levantar. Mas o Senhor sempre nos dá uma nova oportunidade da vida na graça, que é a liberdade. Esta libertação acontece na experiência do amor do Pai, no encontro com Jesus, no dom do Espírito Santo. Os Evangelhos narram muitos desses encontros...

      Num sábado, Jesus ensinava numa sinagoga. Havia ali uma mulher que há dezoito anos tinha um espírito que a enfraquecia. Andava encurvada e não podia se endireitar. Vendo-a, Jesus chamou-a e disse: Mulher, estás curada de tua doença. Impôs-lhe as mãos, e ela imediatamente se endireitou e começou a louvar a Deus. (Lc 13, 10-13)

      O que mais chama nossa atenção neste texto é o olhar de Jesus. Vendo-a... Jesus a olhou. Talvez pela primeira vez na vida dela alguém realmente a viu. Viu-a em sua fraqueza que a fez se curvar... em sua história de vida... suas dores... sua carência emocional e afetiva... a falta de dignidade... dificuldades na família... os relacionamentos que roubaram muito dela... o desemprego... a doença... a solidão... a culpa pelas conseqüências das escolhas erradas que fez na vida... e viu que tudo isto se tornou uma batalha espiritual que ela não conseguia vencer: um espírito a enfraquecia. Mas apesar disso ela continuava fiel, frequentando a sinagoga.

Jesus a encontra nesta triste realidade, já sem esperança e consolação. E a olhando com amor Ele diz: Estás curada de tua doença.  Estás livre de teus fardos.

     Continuando o texto vemos que veio a voz de quem quer regular a ação de Deus: Há seis dias em que se pode trabalhar. Nesses dias vinde curar-vos e não em dia de sábado. (Lc 13,14). Se contrapondo à ação libertadora de Jesus há vozes que nos condenam, que não suportam nos ver livres. Vozes fora de nós e dentro de nós. Satanás quer nos ver encurvados. Jesus é o libertador. Esta luta é constante dentro de nós: a quem vamos ouvir? Quem vai vencer? Quem vai reinar sobre nós? 

    A ação de satanás nos encurva, endurece, infla o orgulho, a soberba e o apego ao dinheiro...
    A ação de Deus traz alegria, nos ilumina e liberta. Dele recebemos os dons necessários para viver em abundância. Mas o que é abundância para Deus? É graça e paz.

A graça é a amizade, a intimidade com o Senhor e a fortaleza do Espírito Santo:  Eu vos chamo amigos (Jo15,15). A paz é o dom do ressuscitado: A paz esteja convosco. (Jo 20,19). A paz de Deus é um dom precioso, nos dá confiança no Senhor, nos dá serenidade para vencer as lutas da vida sem nos encurvar.

Senhor Jesus, Rei salvador. 
Liberta-nos da angustia e do medo das forças maléficas que agem no mundo. 
Dá-nos a graça de firmar nossos pés na rocha que é o Senhor Ressuscitado. 
Dá-nos a paz e alegria do amor do Pai, e a consolação e força do Espírito Santo. 
Restaura a dignidade humana que perdemos pelo pecado. 
Ajuda-nos a fazer o bem que o Senhor nos permite fazer hoje, sem nos angustiarmos com o que está além das nossas forças. 
Amém.

Disse-vos estas coisas para que minha alegria esteja convosco, e vossa alegria seja completa (Jo 15,11)

sábado, 4 de fevereiro de 2017

VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO

Vós sois a luz do mundo. Não é possível esconder uma cidade situada sobre um monte, nem se acende uma lamparina para se  pôr debaixo de uma vasilha, mas num candelabro, para que ilumine a todos da casa (Mt 5,14-15).


Tua palavra é uma lampada para meus passos e luz uma para o meu caminho (Sl 119,105). A Palavra de Deus nos forma e transforma. Se orarmos com ela diariamente ela nos alimentará e converterá mudando nossa mentalidade. Mas nossa vida também é marcada pela luz semanal que jorra da Palavra do domingo, do Cristo ressuscitado, se estendendo durante a semana. No domingo passado a palavra nos chamava à conversão pessoal: buscai o Senhor... vivei os mandamentos... alegrai-vos, pois a vida em Cristo é alegria.

Hoje a Palavra de Deus nos chama a uma segunda conversão: a conversão para o outro. Quando cuidamos do outro manifestamos a luz, a glória do Senhor e seremos curados (cf. Is 58,7-10). Esta segunda conversão é necessária, pois o mundo e a criação anseia por ver a bondade dos cristãos.

Jesus é a luz do mundo, e hoje Ele nos chama a participar da sua missão: Vós sois a luz do mundo (Mt 5,14). É fácil para nós acreditar que Jesus é a luz do mundo. Mas não tomamos sobre nós a missão que recebemos no batismo: Vós sois a luz do mundo. Você é a luz do mundo. Por que não assumimos esta missão? Por medo de nos comprometermos com Jesus e o Reino de Deus, por indiferença, por preguiça, por pensar que isto talvez seja vaidade... ou ainda por complexo de inferioridade. Ah, se todos nós cristãos assumíssemos a missão que Jesus nos deu! O mundo seria transformado. 

Nada grandioso nos é pedido, apenas viver conforme a nossa fé. Até mesmo porque não somos cheios de eloquência e sabedoria, somos pequenos e pobres. Na nossa pobreza levamos o Senhor Jesus: Anunciamos a Jesus crucificado (cf. 1Cor 2,1-5). Anunciar Jesus crucificado, como fala S. Paulo, não quer dizer anunciar um Jesus morto, mas anunciar Jesus no mistério integral da sua vida. O Pai não fez um "milagre" grandioso para salvar Jesus do caminho de cruz, pois ele era necessário para nossa salvação. 
Em nossa pobreza nos revestimos de Cristo, e cheios do Espírito Santo podemos dizer e viver: Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai. Sem Ele nada podemos fazer.

Ó Espírito Santo, vós que sois a luz, e que um dia nos encheu de luz nas águas purificadoras do batismo. O Senhor que a cada dia nos forma pela Palavra de Deus, vinde gerar Jesus em nós. Dá-nos a graça de tomar sobre nós o suave jugo do senhorio de Jesus. Dá-nos a graça de manifestar a presença do Senhor no mundo por atos de bondade e compaixão. Vinde Espírito Santo, nos converter para o outro. Vinde Espírito Santo. 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

DESOLAÇÃO E APEGO

Levantai, pois, as mãos fatigadas e os joelhos trêmulos. Dirigi vossos passos pelo caminho reto, a fim de que o membro deficiente seja curado ao invés de deslocar-se (Hb 12,12).

Mãos fatigadas e joelhos trêmulos nos faz pensar no cansaço de lutar em muitas situações dolorosas da vida que podem nos levar à desolação. Gostaríamos que não fosse assim, mas todos nós passamos pela desolação. Como viver a fé no tempo da desolação? Nesse tempo preciso aumentar minha confiança e abandono nas mãos amorosas de Deus. Deixar que Ele me conduza no deserto e me forme segundo o coração de Jesus, para que eu possa ter os pensamentos e sentimentos do Filho.

No tempo da desolação o Espírito Santo quer nos fazer crescer no desapego. O apego nos faz sofrer, nos aprisiona, condiciona nossas ações, nos faz tomar decisões erradas e nos afasta da vontade de Deus. O apego nos enlouquece, nos cega - é uma carência de amor e nos faz querer reter, segurar, nosso objeto de apego. Muitas vezes posso dizer que o Senhor me dá um sofrimento quando na verdade é o apego que me faz sofrer ou aumenta o meu sofrimento. Posso me apegar até mesmo pela desolação. Uma coisa é sofrer sem apego outra coisa é sofrer com apego. 

Amados, se permanecermos em Deus Ele endireitará os nossos passos, transformará os nossos pensamentos e sentimentos, purificará a nossa vontade para que sejamos curados. E os nossos joelhos não se deslocarão - quem pode caminhar com os joelhos deslocados? O Senhor Jesus cura nossas feridas do corpo e da alma para que possamos segui-lo com liberdade. A gratidão abre os nossos olhos e o coração para "ver" o amor e misericórdia de Deus. Todos os dias Ele nos dá o necessário para a vida. 

Oremos com o salmo 103(102)1-5:

Bendize, ó minha alma, o Senhor,
e todo o meu ser, seu santo nome!
Bendize, ó minha alma, o Senhor,
e não se esqueça nenhum de seus benefícios!
É ele quem perdoa toda tua culpa
e cura todas as tuas enfermidades.
Ele resgata tua vida da cova
e te coroa de amor e misericórdia. 
Ele sacia com tantos bens teu vigor,
que tua juventude se renova como a águia.