Pelas três da madrugada, vendo que
estavam cansados de remar, pois o vento lhes era contrário, foi até eles
andando sobre o mar e queria passar à frente deles. Ao vê-lo caminhar sobre as
águas, pensaram que fosse um fantasma e gritaram, pois todos o viram e se
assustaram. Mas Jesus logo lhes falou: “Coragem! Sou eu! Não tenhais medo!”
Então, entrou no barco onde estavam, e o vento se acalmou (Mc
6,48-51).
Os discípulos lutavam para conduzir o
barco em meio ao mar revolto, remando contra o vento. Trabalhavam com afinco
com medo do naufrágio. Suas mentes estavam dominadas pelo medo. Em meio a esta
situação Jesus vai ao encontro deles, mas tal era o estado de pavor que os
dominavam que não reconheceram Jesus, que caminhava, comia e bebia com eles.
Esse estado mental os fez pensar que Jesus fosse um fantasma, um espírito das
profundezas do mar, que tinha vindo para arrastá-los para a morte. A mente
dominada pelo medo sempre nos prega peças, e nos leva a acreditar em suas
fantasias.
Muitas vezes nossa vida fica revolta
como esse mar. A escuridão da noite, os fortes ventos da tempestade dos
sofrimentos, as ondas gigantes da angustia e do medo nos atacam de todos os
lados. Ficamos sem forças, e não conseguimos ver uma saída
ou reconhecer um socorro. Parece que até Deus se cala, se afasta e nos deixa só,
lutando nossa luta, uma luta que muitas vezes nos parece maior que nossas
forças.
Às vezes a tempestade é uma doença, a
morte de alguém querido, uma separação, o desemprego, um vício que não
temos forças para deixar... Muitas coisas ameaçam nossa estabilidade e até mesmo
nossa vida. Em todas as situações o que nos mantém de pé é a fé de que o Senhor
vem ao nosso encontro na hora mais escura da noite para nos salvar. Com Ele no
barco podemos vencer as tempestades.
Mas fico pensando em outra situação que pode
nos abater: a calmaria. Não falo da calmaria dos dias bons em que sentimos
alegria e gratidão por podermos fazer as coisas simples da vida – a convivência
familiar, o comer saboreando os alimentos, degustar uma taça de vinho, o
trabalho, o poder caminhar, ouvir um pássaro cantando em meio ao barulho da
cidade... muitas são as coisas que alegram nossa vida, e muitas vezes não
prestamos atenção nelas.
Penso na calmaria que prende as velas do
barco da vida, quando não sopra nem uma brisa, em que a superfície do mar
parece de vidro e nada acontece. A calmaria que mina nossas forças, que nos
torna irritados e sem paciência. Quando nada podemos fazer a não ser esperar
que o vento sopre de novo e enfune as velas da vida. Em tal situação de
desolação se torna difícil manter os compromissos que fizemos. Nossa oração se
torna árida e é um desafio manter acesa a chama da fé.
Não sei o que é mais difícil: a
tempestade ou a calmaria. Na tempestade sempre temos alguma coisa para fazer; é
preciso ir à luta... Na calmaria o desafio é a inércia, o não ter nada para
fazer, é um teste para nossa paciência. Mas seja qual for a situação que
estamos vivendo o socorro sempre vem do Senhor. É Ele que adestra nossas mãos
para a luta na tempestade e nos dá força para esperar que o vento do Espírito
sopre outra vez as velas da nossa vida. Ambas as situações deixam marcas em
nós. Não somos mais os mesmos depois de uma tempestade ou de uma calmaria.
Senhor Jesus, vinde ao barco da nossa
vida, pois precisamos do seu socorro. Vinde nos dar força na tempestade ou na
calmaria. Vinde lutar conosco e por nós. Temos medo Senhor! Aumenta nossa fé. Que
a Vossa presença seja o nosso consolo. Cure as feridas da tempestade e da
calmaria. Vinde Espírito Santo consolador, nos trazer o balsamo da cura divina.
Amém.
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