E o deserto florescerá!

E o deserto florescerá!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

UM ENCONTRO DE AMOR

   Ó Deus, tu és meu Deus; a ti procuro, minha alma tem sede de ti; todo meu ser anseia por ti, como a terra ressequida, esgotada, sem água.
 Sl 63(62)2
        A vida de oração é um desafio. Cada vez mais encontro pessoas que não conseguem ter vida de oração, ou seja, rezar diariamente. Talvez uma das causas dessa dificuldade seja o fato de que não controlamos a oração. Na vida de oração podemos controlar a decisão de nos colocarmos em oração, mas o que acontece durante a oração é uma ação do Espírito Santo – Ele é o mestre da oração.

      Como diz o versículo do salmo 63 que usamos em nossa reflexão, buscamos a oração porque temos sede de Deus, mas dia após dia sentimos que esta sede nunca é inteiramente saciada. Como o maná no deserto só podia ser colhido o suficiente para um dia, assim também precisamos colher na oração o suficiente para um dia. Para ser saciada preciso voltar continuamente à fonte das águas. E sei que esta sede só será saciada inteiramente no céu, mas dia após dia, venho, busco, paro, escuto... Há dias em que escuto claramente, experimento o amor, misericórdia, compaixão. Mas em outros dias não percebo nada. Apenas o silêncio no escuro da fé... Mas volto à oração pois sei que Deus é fiel e mesmo quando não o percebo Ele está presente, vem ao meu encontro porque me ama. É isto que me seduz e faz perseverar: a oração é um encontro de amor.

      Pois tu plasmastes meus rins, tu me tecestes no seio de minha mãe. Meus ossos não te eram encobertos, quando fui formado ocultamente e tecido nas profundezas da terra. Teus olhos viam meu embrião, e em teu livro foram registrados todos os dias prefixados, antes que um só deles existisse. (Sl 139(138),13.15-16).

      Deus é Alguém que me conhece inteiramente, e isto é motivo de repouso e paz. Ele conhece cada uma das minhas células e passeia entre elas como no seu jardim. O Senhor conhece as forças da minha mente, conhece tudo o que se move nos subterrâneos do meu inconsciente. Conhece o que verdadeiramente move as minhas ações. Ele conhece o que é verdadeiro e o que é falso em mim; o que domina a minha vontade, o que limita a minha liberdade, e me conhecendo Ele me ama. Conhece as feridas do meu ser e a todas Ele quer curar, pois sua misericórdia se estende de geração a geração.

      Ele se compadece porque conhece, mais do que eu mesma, as minhas lutas. Conhece o meu desejo de fazer o bem e o mal que se esconde sorrateiro em meu íntimo. Conhece a minha mente endurecida, esclerosada, pelos conceitos e preconceitos que absorvi ao longo da vida. Conhece o orgulho, a arrogância e o desejo de agradar. Enfim, me conhece como sou realmente, como não sou conhecida nem por mim mesma, pois eu conheço apenas uma parte de mim – algumas coisas eu mostro e outras não. As pessoas que convivem comigo conhecem outra parte de mim – a que eu mostro e a que elas veem e eu não vejo. O Senhor é o único que me conhece realmente e, me conhecendo, me ama, perdoa e abençoa.

Senhor, obrigada pelo dom da vida. Tu me criaste de forma maravilhosa. Tudo o que sou e tenho recebi de vossas mãos amorosas. Tua mão me conduz em rodos os meus caminhos – endireitai os meus passos. Ó Deus de bondade, dá-me a graça de corresponder ao seu amor. Dá-me fome e sede da tua Palavra e gosto pela oração. Ó Espírito Santo, seduza o meu coração para que eu encontre a paz e alegria no encontro com Jesus. Renove-me a cada dia, para que minha vida seja um ato de louvor ao Pai. Assim seja. Amém.



sexta-feira, 21 de outubro de 2016

DESEJO DE DEUS

     Só podemos falar do que vimos e ouvimos. Por isto o que escrevo neste blog é um pouco da minha experiência espiritual. Não tenho nenhum propósito, a não ser levar um pouco da ternura e amor de Deus a quem porventura ler. Dar de graça o que recebi de graça. Hoje vou partilhar sobre algo que é constante em minha vida: o desejo de Deus.
 Ò Deus, tu és o meu Deus, procuro estar na tua presença. Todo o meu ser deseja estar contigo, eu tenho sede de ti como uma terra cansada, seca e sem água. (Sl 63,2).

    Criado por Deus e para Deus, o ser humano traz em si uma centelha do infinito. Deseja a perfeição, deseja ser completo, mas sabe e sente que algo lhe falta. Seguimos pela vida buscando sempre este algo, e muitas vezes buscamos em lugares e coisas enganosas, o que só nos fará sentir mais vazios. A perfeição e completude que desejamos só a podemos alcançar em Deus. Geralmente eu a experimento na missa e na oração pessoal, mas às vezes o Senhor me surpreende andando pela rua ou em qualquer momento do dia.

Amados, mesmo sem ter consciência todo nosso ser clama ao Pai.
Pai que nos amou a ponto de entregar o seu Filho. Pai, que nos procura na brisa da tarde, em meio ao jardim. Pai, que nos chama com sua voz suave, a voz do Espírito de Amor: “Vem”. Levanta-te, minha querida, minha formosa, e vem! (Ct 2,13).

  Mas muitas vezes resistimos a esse chamado. Muitas vezes nos deixamos abater e sufocar pelos apelos do mundo, e pela voz da nossa alma ferida pelo pecado e sofrimentos, que diz: você não é merecedora desse amor. Mas o Senhor não se cansa de nos buscar: A voz do Amado continua a nos chamar... “Ah, se ouvisses hoje a minha voz, a voz do meu amor... Eu saciaria sua sede e fome. Eu te levaria a voar nas alturas, nas asas do meu Espírito. E te daria o que o seu coração deseja”.

    Peregrinos neste mundo, seguimos desejando ouvir a voz do Amor. Vivendo entre o apelo do meu coração que deseja ser de Deus e a dificuldade de me entregar totalmente.
Entregar-nos totalmente implica em aceitar a solidão do chamado, pois o que Deus faz em nosso ser profundo fica entre Ele e nós. Aceitar o cajado do pastor. Li em algum lugar que o pastor caminhando junto com o rebanho, de vez em quando escolhe uma ovelha e põe o cajado sobre ela. O cajado é um vínculo com o pastor, mas é também um peso, pois a ovelha suporta o incomodo de caminhar com o cajado do pastor sobre si. Não obstante o peso é uma alegria. A alegria que vem do vínculo, a escolha, a ligadura com o pastor.

Este caminho solitário é um caminho de santificação. Ver o que a maioria não vê, sentir o que a maioria não sente. Ter por companhia apenas o Pastor das ovelhas. Não ter como fugir, pois a escolha não foi nossa. Dizer como o salmista: Para onde ir, longe do teu sopro? Para onde fugir, longe da tua presença? (Sl 139,7). Apenas prosseguir na obediência da fé. Esperando ser fiel ao chamado apesar da fraqueza e pecados. Esperando que Cristo seja tudo em todos:
Eu neles e tu em mim... (Jo 17,23).

Ó meu Amado! Meu coração arde de desejo de possuir-te inteiramente. Mas caminho na nuvem do claro/escuro, do não saber, do não ser... Pois, possuir-te inteiramente só é possível no céu. Enquanto isso, caminho na esperança de estar cada dia mais perto de Vós. E que, por um mistério do seu amor e misericórdia, o Senhor me possua inteiramente. Pois, mesmo eu sendo infiel o Senhor permanece fiel. Assim seja. Amém. 

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

UM CHAMADO, UMA RESPOSTA

Vem, diz a voz do Amor! 
A grande obra do Espírito Santo é abrir nossos ouvidos para ouvirmos essa voz e nos conduzir ao encontro do Pai. E Ele faz isso formando em nós o rosto do Filho, Jesus.

   Quem deseja ser  conduzidos pelo Espírito Santo precisa aceitar passar por esta transformação. Viver em Cristo é deixar que o Espírito Santo nos conduza pelos caminhos da vida até formar em nós o rosto do Filho. Trocando nosso coração de pedra por um coração de carne, semelhante ao de Jesus. E o Espírito Santo espera de nós uma resposta: sim ou não. Esta é a resposta mais importante da vida, pois envolve a escolha entre a luz e as trevas, entre o Espírito de Deus e o espírito do mundo.

    Mas, qual resposta posso dar se minha vida só tem sentido no encontro com o rosto misericordioso do Pai? Eu existo no Pai. Eu me alegro no Pai. Tudo o que sou é para o Pai. Tudo o que faço desejo que seja para a glória do Pai... No fim de tudo fica esta certeza: desejo agradar a vós, meu Deus.
Senhor nosso Deus! Tu és a luz e a vida!
Nos diversos afazeres que me ocupo, indo e vindo... Até mesmo nos meus sonhos e desejos... Aquilo que me alegra, no qual me comprazo... O encontro com pessoas queridas, o bem que posso fazer, a criatividade, a contemplação da natureza... Vejo afinal que tudo isto é uma pálida figura do que realmente importa.

Tu és meu Pai, meu Deus, rocha de minha salvação (Sl 89,27) .

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

SOLIDÃO... SOLITUDE...



 Refletindo em grupo o livro de Thomas Merton, Na Liberdade da Solidão, tenho pensado nessas palavras: “solidão” e “solitude”. Na minha busca por compreender melhor o que Merton fala encontrei esse pensamento:
“A linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinho.” (Tillich).

     Não terminei a busca por compreensão, mas o que ficou para mim no momento é que: Solitude é a glória de ser só de Deus para melhor estar com as pessoas.

     Vejo que tenho experimentado em muitos momentos a solitude. Momentos em que parece que toda ajuda humana com que contávamos desaparece, e sou “forçada” a confiar somente em Deus e na ajuda que Ele proverá para mim. Às vezes a ajuda vem de onde menos esperamos, mas ela certamente vem. Apesar do medo e ansiedade, nunca fiquei desamparada. Estou aprendendo a viver em solitude...

     O melhor exemplo da vida em solitude é a Virgem Maria. Ela foi obediente em tudo, não se fez maior em nada, a não ser na graça de Deus. Mãe da humildade, sempre disponível para Deus (Lc 1,38). Preciso aprender com a Mãe a graça da humildade, de “fazer sempre o que Jesus disser” (cf.Jo 2,5). O orgulho é a raiz do sofrimento demasiado pelas injustiças sofridas, pelos contratempos que desfaz nossos planos e destrói nossos sonhos, aquilo que tínhamos como certo.

   Senhor, sei que não correspondo inteiramente ao teu plano de amor para mim, mas desejo “fazer com prazer a vossa vontade”. O Senhor me chama à entrega de amor, ao abandono confiante em vossas mãos. Mas vejo como é imperfeito o meu amor e quanto falho na entrega confiante a Vós. Mas apesar de tudo, eu peço, que a minha vida seja cheia dos frutos do Espírito Santo. E que em todas as situações eu possa dizer como Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Aconteça comigo segundo tua palavra! (Lc 1,38). Senhor dá-me a graça da solitude. Que no colo da Virgem Maria eu receba do Espírito Santo a confiança profunda no amor e misericórdia de Deus.

O próprio Senhor dá a felicidade, e nossa terra dá o seu fruto (Sl 85,13).

sábado, 3 de setembro de 2016

UM CORAÇÃO NOVO

      Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo. Removerei do vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Porei em vós o meu espírito e farei com que andeis segundo minhas leis e cuideis de observar os meus preceitos. (Ez 36, 26-27)

      Amados, ao nos criar Deus soprou sobre nós o sopro da vida, o amor, a bondade, a beleza, a misericórdia. Criou-nos para o bem e a felicidade; nos fez semelhantes a Jesus, manso e humilde. Mas o mundo, o pecado, os traumas da vida, o desamor e a indiferença, endureceram nosso coração até ele se tornar de pedra. Um coração de pedra machuca primeiro quem o possui - nos machuca de uma forma dolorosa e profunda. Nos torna arrogantes, egoístas, violentos, grosseiros, corruptos, nos faz querer levar vantagem em tudo, sem amor a Deus e ao próximo. Triste e infeliz é a pessoa que traz no peito um coração de pedra.

    Hoje, o Senhor quer trocar nosso coração de pedra por um coração de carne. A característica do coração de pedra é a indiferença, do coração de carne é o amor. Jesus troca nosso coração para que possamos amar o Pai, no Espírito, como Ele ama. Para que possamos ver as pessoas e o mundo como Ele vê. Para que possamos amar e servir como Ele amou e serviu. Para que possamos amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos, e cessemos de fazer o mal e passemos a fazer o bem.

    Para facilitar a compreensão da mudança de coração vamos usar a imagem de um coração de pedra já com muitas trincas e rachaduras. Uma rachadura principal e diversas menores. A rachadura principal são os traumas e pecados que mais nos marcaram na vida. As menores, são as coisas pequenas que não foram cuidadas e cresceram dentro de nós. Jesus aproveita essas rachaduras do coração de pedra, e toca com suas mãos chagadas... derramando um óleo finíssimo e perfumado sobre a pedra... com cuidado Ele vai esfregando para que o óleo penetre profundamente na pedra.

    Amados, a pedra sou eu, é você. Pedra partida, machucada. O óleo é o balsamo do amor que cura, o balsamo do perdão e misericórdia de Deus. É também o dom do Espírito Santo, que cura feridas profundas, nos santifica e faz novas todas as coisas. Transforma nosso coração de pedra num coração de carne. Nos leva da indiferença para o amor.
Senhor, troca o meu coração. Cura profundamente a minha vida. Cura aquelas feridas antigas que estão escondidas debaixo de muitas cascas e endureceram o meu coração e desfiguraram em meu ser mais profundo. Me desviaram do amor, minha vocação primeira. Ó Espírito Santo, Espírito de Amor, toca minha mente e meu coração. Dá-me uma vida nova em Cristo Jesus, para a glória de Deus Pai. Amém.

sábado, 13 de agosto de 2016

TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

      Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a sós para um monte alto e afastado. E transfigurou-se diante deles. Seu rosto brilhou como o sol e as roupas se tornaram brancas como a luz... (Mt 17,1-8).
   

    A transfiguração de Jesus é um mistério (algo que não compreendemos completamente). Não é algo que Jesus faz, é algo que se realiza nele. É a revelação de quem Ele é: o Filho de Deus. E mostra o que viremos a ser: a esperança da glória futura, que já acontece, está escondida em nós.
Mostra a realização do passado (Lei e profetas). Antecipa o futuro, como fala o profeta Isaias: Eis que faço uma coisa nova! Já está despontando, não o percebeis? (Is 43,19). O que é a coisa nova? O amor do Pai, a salvação em Jesus, o dom do Espírito Santo, a segunda vinda de Jesus, o esplendor dos santos, a glória a que somos predestinados (cf. Ef 1,5-6).

      Jesus Cristo é o centro do tempo e do universo, une o céu e a terra. Na transfiguração vemos a glorificação de Cristo e a nossa: quando contemplamos nos transfiguramos. Mais ainda, o universo é transfigurado. Contemplando Jesus Cristo refletimos a glória divina e somos transformados na imagem que contemplamos (cf. 2Cor 3,18). Quer dizer: ter a mente, os pensamentos, os sentimentos, a visão de Jesus.

    Vamos subir o Monte Santo (2Pd 1,16-18). Entrar na nuvem luminosa: o Espírito Santo. Deixe que o Senhor me tome pela mão, na solidão, no silêncio da noite... Distanciar-me, subir o monte. Jesus não se transfigura em meio a multidão.
Do que você precisa sair, se distanciar?

      Enquanto Jesus rezava a luz provém do seu interior... até suas vestes se tornaram de luz: Deus é luz, nele não há trevas (1Jo 1,5). Jesus brilha com luz própria, mostrou algo de sua divindade. No monte, Jesus revela a Pedro, Tiago e João, um momento íntimo de oração entre Ele e o Pai. A transfiguração é um mistério da felicidade divina. Os discípulos se tornaram participantes; nós somos participantes.

       Deslumbrado Pedro diz: “Senhor, como é bom estarmos aqui!” - retornou a beleza perdida com o pecado, beleza desvirtuada em nossos dias. “Se quiseres, levantarei três tendas: uma para ti, uma para Moisés, uma para Elias”. Pedro não sabia o que dizia. Por que? Porque Jesus não é igual a Moisés ou Elias, outro profeta. Jesus é Deus. Depois ele não precisava fazer tendas. A tenda estava feita! Deus fez uma tenda: a nuvem, o Espírito Santo, sinal visível, os envolve. E do meio da nuvem, da tenda, se ouve uma voz: “Este é o meu Filho amado, escutai-o”. Completou-se a revelação. Deus não precisava falar mais nada (cf.Hb 1,1-2).

E, de repente, tudo voltou ao normal... viram só Jesus com eles. E Jesus lhes disse: “Levantai-vos e não tenhais medo”. Jesus caminha conosco. Não precisamos ter medo. Nele encontramos o Pai e o Espírito Santo.

       Amados irmãos, o reino está dentro de nós! Vamos subir o monte interior...  entrar na tenda armada por Deus – com Jesus, o Pai e o Espírito Santo. Saborear a doçura e beleza de Deus.  Deixe que os projetos, as preocupações, o medo, a ansiedade, a tristeza... voem para longe, e aconteça em nosso coração uma profunda paz. Paz que é dom do Ressuscitado. Contemplar a transfiguração é uma cura para o stress e nos torna portadores da paz no mundo em guerra. Este é o sinal visível da espiritualidade da transfiguração: a paz. A primeira cura é a paz no coração. Deus nos cura pela paz. Ele é a nossa paz.

Senhor, toma-me pela mão e conduze-me ao monte alto e afastado do meu ser profundo. 
Leva-me contigo ao sacrário da minha alma, onde sou eu mesma e onde posso experimentar a beleza, a bondade e o poder de Deus. 
Leva-me ao lugar dentro de mim que é o seu templo. 
Onde sou sã. 
Onde o mar revolto da agitação do mundo não tem poder, porque neste lugar o Senhor reina e dá a sua paz. 

Todos nós, de face descoberta, refletimos a glória do Senhor como um espelho, e somos transformados nesta mesma imagem, sempre mais gloriosa, pela ação do Senhor, que é Espírito (2Cor 3,18).

Inspirado no livro O MISTÉRIO DA TRANSFIGURAÇÃO – Raniero Cantalamessa – Ed. Loyola

domingo, 31 de julho de 2016

SEMEANDO A VIDA

     Os que semeiam com lágrimas colhem com júbilo. Ao sair, ia chorando levando a bolsa de sementes, ao voltar, vem cantando, trazendo seus feixes. Sl 126,5-6.

     Na vida todos nós temos uma missão: semear. Seja qual for sua condição de vida, sua vocação, trabalho, pobre ou rico, se tem uma vida longa ou poucos dias, meses ou anos de vida, não importa.... Todos tem uma missão em comum: semear. Às vezes semeamos com alegria, no tempo da abundancia... outras vezes semeamos entre lágrimas, no tempo da penúria. Talvez você se pergunte como alguém que teve poucas horas ou dias de vida pode semear. A semeadura é a marca, o fruto que deixamos na vida dos outros. E todo ser humano, mesmo com poucas horas de vida, e até mesmo se foi abortado, não chegou a nascer, marca a vida de alguém.

     Se o Senhor nos deu a todos uma missão comum, precisamos refletir: o que estou semeando? Semeio o bem ou semeio o mal? Que marcas deixo nas pessoas a minha volta? Se eu morrer hoje como as pessoas vão se recordar de mim? Sou uma pessoa que leva a paz, o amor, o perdão... ou, pelo contrário, sou alguém que divide e leva a desunião.
    Muitos são os campos de semeadura. Na família, com os amigos e colegas, no trabalho, na escola... Todos somos chamados a participar da semeadura de Deus com a vida, e às vezes com o anúncio explícito do evangelho.

    Muitas vezes semeamos com lágrimas, fizemos coisas que pareciam estar além das nossas forças. Todo evangelizador já experimentou ter que ir além de suas dores para anunciar Jesus. E, por força da graça de Deus, na sua fraqueza, ser forte; na sua doença, no seu sofrimento, saindo de si mesmo para anunciar Jesus Cristo, ser curado (cf.2 Cor 4,7-15).

     Muitas vezes podemos voltar para casa sem ver o fruto do nosso trabalho. Fica a dúvida: será que as sementes plantadas vão germinar? Seja qual for o nosso campo de semeadura muitas vezes não veremos o fruto do nosso trabalho. Aliás, uma coisa é certa: nunca veremos inteiramente o fruto da semeadura. Só no céu veremos as coisas como são na realidade: No presente vemos por um espelho e obscuramente; então veremos face a face (1Cor 13,12). No céu o Senhor nos mostrará o fruto da nossa semeadura.

     Hoje, podemos refletir: Semeamos trigo ou semeamos joio? Fizemos mais o bem ou o mal com os dons e talentos que nos foram dados? Como marcamos a vida das pessoas à nossa volta? Que marcas deixamos no mundo? Ele se tornou um lugar melhor por nossa causa? Nossa família, os vizinhos, os amigos, nossa cidade, o país e o mundo, foram beneficiados com nossa vida? 
    
Hoje, é o dia da graça (2Cor 6,2).Só tenho hoje para fazer o bem, semeando todas as sementes que o Divino semeador me deu.

Senhor, dá-me a graça de viver com alegria, e semear todas as sementes que trago comigo. 
Expulse as sombras do desânimo, da tristeza, do desamor e da indiferença, que não nos deixam fazer o bem. 
Transforme as lágrimas da melancolia e da reclamação em prazer e alegria. 
Mude minha mentalidade egoísta e fechada. 
Que, por sua graça, eu possa viver em plenitude e semear todas as sementes que me foram dadas. 
Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

SER COMO CRIANÇA

Eu vos garanto que se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino dos céus. Quem se fizer pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus. (Mt 18, 3-4)
    Outro dia fomos rezar por um senhor idoso e gravemente enfermo. Ali estava uma pessoa que viveu a vida intensamente, com erros e acertos, com muitas realizações – sendo a maior delas a família constituída por ele e sua esposa. Podíamos ver, junto com a filha, que foi uma vida bem vivida e que estava agora no limiar do seu fim, podendo dizer “tudo está consumado”.

    E durante a oração não o víamos como um doente, uma pessoa acabada. Nós o víamos como uma criança feliz a quem o Espírito Santo dá a mão e conduz por uma estrada que se perde no horizonte, pois o mistério da vida e da morte nos é oculto, e é preciso ser como criança para entrar no reino dos céus.

    Mas mesmo desconhecendo o mistério da vida e como será a nossa estrada, pela fé, temos uma certeza: O Espírito Santo nos leva para o Pai. O Deus de amor viu a cada um de nós, nos amou e escolheu, chamou pelo nome, e vem fazer morada em nosso coração. E ao longo da vida, entre tantas quedas e enganos, com nossos erros e acertos, na sua misericórdia vai nos conduzindo para o retorno a Ele.

     Podemos ouvir a voz do Amor que nos diz: Não resistas à vida, não resistas à dor.  Se abres o coração, as dores da vida te tornará mais humano e mais divino. Mais humano, porque unido aos sofrimentos dos homens e mulheres deste mundo. Divino, porque mais unido a Cristo, que sofreu por você, para te reconciliar com Deus. Na vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus, você encontrará consolo. Eu te conduzo para o Pai, no Filho. Ele é o caminho. Sejas dócil à minha condução.

    Amados, conduzidos pelo Espírito Santo só temos um destino: Jesus e o Pai. Um dia teremos a plena visão na glória do céu. Para chegarmos lá o Senhor vai colocando ordem em nossa vida como ordenou os astros no universo.

Senhor Jesus Cristo, expulse de mim as trevas do medo. 
Medo que endurece o meu coração, me afasta dos outros e me fecha ao amor. 
Senhor, encha-me com o teu amor. 
Troque o meu coração velho e esclerosado por um coração de criança, livre para amar e perdoar. 
Que o teu amor me sacie, me dê confiança plena na sua misericórdia, e transborde para além de mim, gerando vida por onde eu for. 
E que o Espírito Santo me faça renascer a cada dia até eu me tornar como criança. 
Vinde Espírito de Amor. 
Vinde Espírito Santo!

terça-feira, 5 de julho de 2016

NESTA MANHÃ...

Ó Deus, tu és meu Deus; a ti procuro,
minha alma tem sede de ti;
todo meu ser anseia por ti,
como a terra ressequida, esgotada, sem água. (Sl 63(62),2)


Senhor, verdadeiramente minha vida está em vossas mãos. Em vós encontro a paz, alegria e esperança. Em tua luz vemos a luz. Só o teu imenso amor pode corresponder ao meu desejo; encher os vazios, saciar a sede e a fome do coração humano.
A cada manhã o Senhor desperta o meu ser para o louvor, a vida e o amor. O teu amor é o meu sustento. Como Elias multiplicou a farinha e o azeite da viúva de Sarepta, o teu Espírito multiplica a força vital, os dons e tudo mais que necessito para viver bem. De todas as formas o teu amor me sustenta, e sustenta cada ser humano que peregrina neste mundo buscando, mesmo sem saber, a tua face. Pois o Senhor colocou em nossos corações o desejo por vós. 
E na inconstância do meu coração eu te vislumbro, te encontro... e mesmo se escondes eu vejo os sinais do teu amor, presente na natureza e em cada gesto de amor e compaixão das pessoas, conhecidas ou desconhecidas, pois somos todos filhos do Pai, em Jesus Cristo, pelo dom do Espírito Santo.  

domingo, 26 de junho de 2016

VASOS DE BARRO

Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que este poder extraordinário seja de Deus e não de nós. 2Cor 4,7

Senhor, meu Pai, dá-me cada vez mais o conhecimento de quem Tu és e quem eu sou. 
Dá-me cada vez mais a consciência do meu pecado – do afastamento de Ti, do orgulho e da mentira que habita em mim.
Dá-me a graça de aceitar humildemente o meu ser pecador, e por esta aceitação permitir que o Senhor me conduza, unja e use, para o bem dos outros e para sua glória.
Senhor Espírito Santo, doce hóspede da alma, vem morar em mim, regenerar o meu ser, me dar a confiança profunda no amor e misericórdia de Deus. 
Confiança total naquele que me ama e me chama à entrega de amor com gemidos inefáveis. 
Como arrulhos de pomba Ele me convida: “Vem!”.                                Vem, Senhor Jesus. 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

EU BUSCO A TUA FACE

Este é Deus, o nosso Deus para todo sempre.É ele que nos guia. Sl 48(47),15

Meu Senhor e meu Deus! 
Dia a dia o meu coração Te deseja, e o desejo por Ti me faz procurar as tuas pegadas nas estradas deste mundo. Na sua fidelidade e misericórdia o Senhor sempre me responde – de algum modo sempre percebo o teu sinal. 
Mas o fato de Te encontrar, perceber de maneiras diferentes que sempre estás comigo, só faz aumentar o meu desejo por Vós. Fica sempre um “quero mais” no mais profundo do meu ser. 
E como se alegra o meu coração quando identifico nas diversas situações da vida a tua manifestação. A sua presença é a razão da alegria que o mundo não pode roubar, alegria fruto do Espírito. 
Como S. João eu digo maravilhada: “É o Senhor” (Jo 21,7).

domingo, 5 de junho de 2016

AS FLORES DO DESERTO

   Sim, como a terra faz germinar as plantas e o jardim faz brotar as sementes, do mesmo modo o Senhor Deus faz brotar a justiça e a glória na presença de todas as nações (Is 61,11).
       
Deserto o Atacama - Imagem da internet
O deserto é um lugar inóspito onde a vida precisa ser forte para acontecer. Onde só sobrevive os que se adaptam e recebe cada gota de água escondida numa planta ou em cada inseto e réptil, como a providência que sustenta a vida.  Sim, no deserto há muita vida. E quando vem a chuva, ou um rio intermitente que corta o deserto traz a água de lugares distantes, faz brotar as flores numa bela profusão de formas e cores. Como são belas as flores do deserto! Que explosão de beleza!

     Fazendo um paralelo com a nossa vida percebemos que ela muito se assemelha ao deserto. O deserto sempre atraiu a alma de quem tem sede de Deus: Ó Deus, tu és meu Deus; a ti procuro, minha alma tem sede de ti, como a terra ressequida, esgotada, sem água (Sl 63(62),2). Desde Abraão que saiu de sua terra e caminhou pelo deserto; os hebreus libertos da escravidão do Egito que caminharam pelo deserto em busca da liberdade da terra prometida; Elias, o grande profeta, sempre se retirava ao deserto para estar com Deus e escutá-lo... Da mesma forma nos primeiros séculos do cristianismo muitos foram atraídos para o deserto como forma de desapego e em busca de ser só de Deus: Só em Deus minha alma está tranquila; dele vem a minha salvação (Sl 62(61),2). Ainda hoje há muitos que buscam o deserto em comunidades monásticas numa forma de vida consagrada. Nós, os discípulos de Jesus no mundo moderno, vivenciamos o deserto de formas diferentes, mas continuamos sendo atraídos por ele. Não vamos aqui falar da ameaça de grandes regiões do mundo se tornarem desertos por causa da falta de chuva e o abuso da criação de Deus. 

     Nossas grandes cidades são desertos onde muitos vivem, mas não se conhecem; onde muitas vezes é difícil cultivar a flor de uma amizade sincera. As luzes, o barulho, a poluição, podem endurecer os corações. Há também muitas pessoas que vivem solitárias e não têm ninguém por elas. E há ainda os que vivem presos no deserto interior. O deserto da falta do sentido da vida, do desamor, da tristeza, do abandono, da depressão, da ganância, do orgulho, da mentira... Triste deserto onde não brota flores, e pode levar aos que nele vive aos vícios, a autodestruição, e até mesmo ao suicídio, como forma de escapar da dor.

     Mas há também nos desertos modernos, pessoas que sentem o chamado à solidão para ser mais de Deus e melhor servir as pessoas. Escolhem viver no deserto das cidades seguindo os passos de Jesus: Cheio do Espírito Santo, Jesus voltou do rio Jordão e foi levado pelo Espírito para o deserto, onde foi tentado pelo diabo durante quarenta dias (Lc 4,1). Como fez com Jesus, o Espírito nos conduz ao deserto para ficar mais perto de Deus e lutar contra o mal.

    Amados, a graça de Deus não é em vão. Ele está junto de nós. Basta levantar os olhos ao céu e clamar pelo socorro do alto. Às vezes o Senhor faz chover no nosso deserto de forma muito suave que até nos passa despercebido. Só percebemos quando vemos brotar as flores e nos perguntamos: Como tive força para passar por isto? Outras vezes ela nos vem de forma muito clara: ouvimos a voz do Senhor, sentimos o toque de sua compaixão, misericórdia, amor e perdão.

    No deserto que você pode estar vivendo, se abra para a graça de Deus. Creia, a água viva do Espírito Santo pode fazer florir em seu deserto as mais belas flores.

Ó vinde Espírito Santo!
Luz venturosa, que vossos clarões encham os corações...
Lavai o impuro e regai o seco, curai o enfermo...
Dobrai a dureza, aquecei o frio, livrai do desvio...
Vem Espírito Santo! 

sábado, 14 de maio de 2016

CORAGEM E FRUSTRAÇÃO

Nós esperávamos que fosse ele quem iria libertar Israel. Agora, porém, além de tudo, já se passaram três dias desde que essas coisas aconteceram (Lc 24,21).

       O relato do encontro de Jesus com os discípulos da Emaús é cheio de significado. Podemos refletir sobre ele de muitas formas e vê-lo de diferentes perspectivas. O mais importante é, seja qual for nosso ponto de vista, chegar sempre a esta verdade: O Senhor ressuscitado caminha conosco mesmo quando não o reconhecemos.

      Hoje escolhi este versículo para refletir sobre o texto do ponto de vista da tristeza e frustração dos discípulos. Tristeza e frustração tão presentes no mundo em convulsão em que vivemos, e percebemos que as pessoas e especialmente os jovens não estão preparados para vivenciar suas frustrações. A propaganda dos meios de comunicação e a sociedade de consumo sem cessar nos passam a mensagem de que não podemos sofrer frustrações. Identificam frustração com infelicidade.

       No tempo dos nossos antepassados as pessoas sabiam vivenciar melhor que a vida é cheia de frustrações – as realizações e até mesmo a felicidade passa por frustrações. Hoje em dia percebemos duas atitudes diante das frustrações: a revolta, e a fuga. As duas geram tristeza ao ser humano.

  Na revolta a atitude é: se não tenho eu tomo, agrido, invado, não assumo responsabilidade e ponho a culpa no outro. Em resumo reajo com violência diante das frustrações. A outra atitude é: se não me agrada eu fujo. A fuga pode nos levar à imaturidade, vícios, tristeza, derrota e depressão. Quando reagimos de uma ou outra forma ficamos presos num circulo vicioso – novo casamento, novo emprego, novo lugar, novo carro, nova religião, etc. E o alívio só dura até a próxima frustração.

Qual é o remédio? 
O remédio é a coragem. Coragem para assumir sua história de vida. História muitas vezes marcada pela dor, fracasso, abandono, rejeição, insegurança, abusos, vícios... Assumir que na nossa história há luz e sombra, envolvendo muitas vezes um processo doloroso.
    

  É no contexto da nossa vida que precisamos abrir o coração, a mente e os olhos, para perceber que o Senhor Jesus caminha conosco como caminhou com os discípulos de Emaús. A eles Jesus explicou as Escritura e reacendeu a chama da fé. Conosco talvez Ele precise falar sobre a nossa vida... a fraqueza das pessoas, as consequências de nossas escolhas, e curar nossas feridas. 

       A cura passa pelo perdão. Perdoar a vida pelo que ela nos trouxe, perdoar as pessoas pelo que nos fizeram, perdoar a nós mesmos pelas escolhas erradas. Às vezes precisamos perdoar a Deus, pelo que Ele permitiu que nos acontecesse, e por parecer que nos deixou sozinhos no sofrimento ou nos pediu algo além das nossas forças – Em nome de Cristo vos pedimos: deixai-vos reconciliar com Deus! (2Cor 5,20). Reconciliando-nos com Deus, com os outros e conosco mesmo, nosso coração se abrirá mais plenamente para o dom do Espírito Santo.

Vem Espírito Santo! Dá-me o dom da fortaleza. Liberta-me da raiva, covardia e reclamação.  Renuncio à rigidez e dureza de coração. Quero apenas me entregar, me render a sua divina misericórdia, e receber do Senhor um coração misericordioso. Jesus, eu entrego a minha vida em tuas mãos e permito que o Senhor cuide de mim. Quero viver uma vida nova com alegria, paz e esperança. Amém.

quarta-feira, 23 de março de 2016

FOI POR AMOR

Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco antes de sofrer (Lc 22,15).

       Neste texto do Evangelho é revelado o ponto alto da história da salvação:  o amor de Deus que nos deu o seu Filho para nos salvar e reconciliar com Deus, conosco mesmo, com os outros e com a criação. Por amor Jesus se entrega num processo de esvaziamento. Nunca podemos esquecer: foi por amor. Por AMOR.

      Ele, subsistindo na condição de Deus, não se apegou à sua igualdade com Deus. Mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo, tornando-se solidário com os seres humanos. E, apresentando-se como simples homem, humilhou-se, feito obediente até a morte, até a morte numa cruz (Fl 2,6-8).

     Como Jesus tornou-se solidário com os seres humanos? Ele entrou na nossa história. Uma história marcada pelo pecado, pelo orgulho e egoísmo, pelo afastamento de Deus, e por isto, pelo sofrimento. Ele aceitou viver a nossa vida, morrer a nossa morte, para nos ressuscitar com Ele.

      As consequências de entrar na história humana foi viver o que todos nós vivemos: a traição, a negação, a condenação à morte. A incoerência do ser humano revelada nos gritos de júbilo e de desprezo da multidão: Hosana! Crucifica-o! Mas Jesus experimentou também a bondade humana na ajuda de Simão de Cirene. Quantas vezes no calvário da nossa vida encontramos um cirineu para nos ajudar a levar nossa cruz.

      Talvez algo nos passe despercebido no grande drama da Paixão: o mundo se levanta para julgar Deus! O ser humano, na loucura do orgulho, pensa que está apto a julgar o próprio Deus! Vemos isso hoje nas ideologias que governam o mundo e pouco a pouco vão manipulando o pensamento humano e nos fazendo pensar que o certo se tornou errado. Exemplos claros do julgamento de Deus pelo homem: O aborto e a ideologia de gênero. No caso do aborto temos uma sentença de morte contra um ser humano negando a ele o direito mais fundamental: o direito à vida. Na ideologia de gênero vemos que o ser humano se coloca no lugar de Deus e quer revogar a lei mais básica da vida: E Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher ele os criou (Gn 1,27).

      Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai (Papa Francisco). Deus não se cansa de perdoar, de esperar por nós, e de nos buscar para nos dar uma vida nova. Crucificado, Jesus perdoa: (Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem. Lc 23,34), e se entrega nas mãos do Pai: (Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. Lc 23,46). O Pai o ressuscitará: A este Jesus Deus ressuscitou, e disso todos nós somos testemunhas (At 2,32).     

       A Cruz de Cristo é a única coisa estável neste mundo em convulsão. Tudo mais passará. Tudo passa. As ideologias, os ditadores e poderosos deste mundo, a dor e a morte... tudo passa. A Cruz levantada no Calvário fica estável. Os poderes do mal e do mundo nada podem contra ela: Jesus Cristo é o mesmo ontem hoje e por toda a eternidade (Hb 13,8). Se ficarmos aos pés da Cruz com Maria, as outras mulheres e o discípulo amado, estaremos protegidos do poder das trevas. Nossa vida está fincada na Rocha que é Cristo.

      Que nesta Páscoa o Espírito Santo nos ajude a levarmos a Cruz de Cristo como discípulos, dando testemunho com nossa vida. E juntos com Jesus possamos também nós levar a nossa cruz – os pecados, traumas, doenças, traição, rejeição, violência, abandono, solidão, morte... A Cruz de Cristo nos leva ao céu. E nós levamos nossa cruz ao céu, pois somos salvos com nossa história de vida. Assim, unimos nossa passagem por este mundo à Páscoa do Senhor.

“Teu sangue nos lava
 Teu fogo nos queima
 O Espírito Santo inunda meu ser”.

Feliz Páscoa!!!

sexta-feira, 18 de março de 2016

MISERICÓRDIA E SACRIFÍCIO

    Tem piedade de mim, ó Deus, segundo a tua misericórdia; segundo a tua grande clemência, apaga minhas transgressões (Sl 50(51),3).

Para ajudar sua meditação pegue sua Bíblia e leia o salmo 50(51).

      Quando falamos de conversão é comum usar a imagem de uma escada ou de um caminho que vai da escuridão para a luz. Este salmo faz esse caminho ou sobe essa escada e nos ajuda a fazer o mesmo. É a passagem do pecado para a graça.

      Ele começa num reconhecimento de que somos salvos pela misericórdia de Deus, que por nós mesmos não podemos nos libertar do jugo do pecado. Nos versículos 3-11 descreve o reino do pecado, e o sofrimento do ser humano escravo do pecado. O salmista tem consciência de que está imerso no pecado como todo ser humano: Eis que nasci culpado, e pecador minha mãe me concebeu. E o pecado, que faz parte da natureza humana, me leva a praticar atos maus como ele reconhece: Pequei contra ti... pratiquei o mal diante de teus olhos. 

     Do versículo 12-19 o salmista levanta os olhos para Deus, que ele reconhece como o único capaz de libertá-lo da situação de escravidão em que vive. É a passagem para o reino da graça. É nascer de novo, é viver em Cristo. A ação da graça de Deus em nós nos dá um coração santo, puro, um espírito decidido, e nos torna generosos – prontos a anunciar a salvação de Deus. 

     Pela graça e misericórdia vamos subindo a escada, saindo de um ar malcheiroso e poluído para respirar um ar puro e agradável. Ou saímos do caminho escuro para o campo aberto cheio de luz. O mundo novo, a vida nova que Deus cria em nós.

    Este é o sacrifício agradável à Deus: a passagem do reino do pecado para o reino da graça (v. 19). E este é um autentico sacrifício. Deixar nossos hábitos, condicionamentos, ilusões e o apego ao pecado, e permitir que o Espírito Santo nos torne novas criaturas é o maior sacrifício que uma pessoa pode fazer. Na verdade eu vos digo: se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará só; mas se morrer produzirá muito fruto (Jo 12,24). Morrer com Cristo e ressuscitar para uma vida nova. Permitir que o Senhor, pouco a pouco, vá restaurando em nós a imagem e semelhança de Deus que perdemos pelo pecado. Esse é o sonho de Deus para todo ser humano. E na sua misericórdia ele não se cansa de perdoar, de nos buscar, curar e salvar. Ele quer nos dar vida e vida em abundancia.

O salmo termina com a manifestação da gratidão de quem viu que seus pés foram soltos do laço (20-21). O pecado de Adão e Eva nos tornou escravos, mas Jesus Cristo desatou o nó do pecado que nos prendia. Vivendo nossa vida e morrendo nossa morte. Ressuscitou e nos ressuscita com Ele para uma vida nova.

      Senhor, que venha a nós o teu reino. Reino da graça, misericórdia, paz e alegria, no Espírito Santo. Dá-nos coragem para passar do reino do pecado para o reino da graça. Ó vinde Espírito Santo, conduze-nos nos caminhos desta vida rumo ao céu, onde Cristo será tudo em todos. Seremos transformados em Cristo, o primogênito de uma multidão de irmãos, para a glória de Deus Pai. Amém

domingo, 6 de março de 2016

ETERNA É A SUA MISERICÓRDIA

Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso (Lc 6,36)
Como Deus é misericordioso?
    O nome de Deus é o Misericordioso. Ele ama com o um amor visceral, comparado ao amor da mãe que embala o filho, que caiu ou levou um susto, junto ao seu rosto – é um amor maternal multiplicado até o infinito. O coração de Deus transborda de ternura para com você, e os diferentes amores que experimentamos na vida (materno, paterno, fraterno, conjugal ou amizade) são um pálido reflexo do amor total de Deus.

Em Jesus se manifestou plenamente a misericórdia de Deus: "Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai" (Papa Francisco).

    Deus é aquele que te vê, mas o seu olhar é amor e traduz sua infinita misericórdia. Vê sua bondade, seus dons e talentos e te convida a crescer. Vê o mal que existe em você, vê o seu pecado e te oferece o perdão que te salva. Não te acusa, mas te defende e protege. Ele é o abrigo mais seguro. 
    “Deus se apaixonou por esta miséria, justamente por essa pequenez. E este amor “se vê”, é um amor terno, como o de um pai ou de uma mãe. E o Senhor diz: ‘não tenha medo, pequenino, não tenha medo. Eu lhe darei força. Dê-me tudo e Eu o perdoarei, lhe darei paz’”. (Papa Francisco).
   Então, deseje que Ele te olhe até as profundezas mais secretas do teu ser. Entre você e Deus existe uma relação que nada pode destruir: Sou o teu Deus, tu és o meu filho. Filhos no Filho, Jesus Cristo.  A misericórdia de Deus mostra o pecador a si mesmo, o coloca face a face com a verdade, sem medo e sem raiva, porque em Cristo é possível a reconciliação.

    Para isso a misericórdia de Deus precisa mudar o que está gravado no consciente e no inconsciente. A misericórdia de Deus não só perdoa a culpa, mas revoga a sentença de morte escrita em nossa vida: Pois o salário do pecado é a morte... (Rm 6,23). Deus compreende misericordiosamente o pecador, no mais profundo do ser e o vê através do sacrifício do Filho, de modo que a mais íntima realidade do pecador não é o pecado, mas ser filho. A restauração do ser humano criado à imagem e semelhança de Deus e desfigurado pelo pecado, deve ser vista à luz da misericórdia de Jesus Cristo que “me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20).

Como vivemos a misericórdia?

 Ide e aprendei o que significam as palavras: Quero misericórdia e não sacrifícios. Porque não vim chamar os justos, mas os pecadores (Mt 9,13).

Qual é a exigência para que uma pessoa receba a misericórdia de Deus?
Reconhecer-se pecador, pedir perdão e converter-se. Reconhecer que somos todos devedores e que o débito é impagável.

  Para sermos misericordiosos precisamos receber misericórdia. Receber e dar misericórdia é permitir que o Espírito Santo forme em nós o rosto de Cristo, o rosto da misericórdia do Pai. “A Igreja é a comunidade daqueles que, em união, experimentam com gratidão a misericórdia de Deus” (D. Bernardo Bonowitz).

 Qual a dificuldade que encontramos?
Às vezes ficamos apegados ao nosso pecado. Queremos vencer pelas nossas forças. Isso só nos leva à frustração. A libertação está em encontrar primeiramente, não a si mesmo, mas a salvação em Cristo. Esse encontrar é a descoberta, na graça e na fé, de que somos misericordiosamente amados e compreendidos, e pelo Espírito Santo somos capacitados a compreender os outros com misericórdia e compaixão.

“A misericórdia cura tudo”. Cura as feridas da alma, do corpo e do espírito. Cura a sociedade e a história. “É a única força que realmente pode curar e salvar... A misericórdia cura a raiz da vida, curando o desespero que projeta seu próprio mal no outro como uma exigência e uma acusação.” (Thomas Merton).

     Senhor nosso Deus, fornalha ardente de amor e misericórdia. Fogo que queima sem consumir. Perdoa os meus pecados e minhas rebeldias. Que eles sejam como gravetos que alimentam a chama da vossa compaixão e misericórdia.  Cura as feridas da minha vida. Vem Espírito Santo, formar em mim o rosto de Jesus Cristo, o rosto da misericórdia do Pai. Amém.